Como lidar com a síndrome de abstinência do cigarro

por Danilo Baltieri

"Como enfrentar a síndrome de abstinência do cigarro, principalmente o nervosismo. Existe algum medicamento realmente eficaz?"

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Resposta: Quando o dependente de nicotina tenta cessar o consumo do cigarro, certamente mostrará sintomas típicos da síndrome de abstinência, caracterizados, principalmente, por:

1) Humor deprimido ou irritável

2) Insônia

3) Sensação de raiva e frustração

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4) Ansiedade

5) Dificuldade para concentração

6) Inquietação

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7) Redução da frequência cardíaca

8) Aumento do apetite e ganho de peso

Apesar da meia-vida curta da substância nicotina, os sintomas de abstinência podem durar bastante tempo, variando de semanas a meses. Ademais, entre os dependentes, a duração e a característica dos sintomas podem variar bastante.

Além da satisfação conseguida através do fumo e da evitação dos sintomas da síndrome de abstinência, existem outros fatores que dificultam a cessação do consumo de cigarros. Essa substância exerce efeitos na modulação do humor, redução do estresse, redução da dor, controle do peso e melhora cognitiva. Dessa forma, o tratamento para deixar de fumar pode ser mais difícil entre pacientes com outros transtornos psiquiátricos (como depressão e ansiedade), preocupados com o ganho de peso e com quadros crônicos de dor.

Apesar de vários tratamentos propostos, ainda muitos dependentes de nicotina continuamente demonstram significativa dificuldade para cessar o consumo dessa substância, mesmo quando submetidos a tratamentos que integram a abordagem com medicações e as psicoterapias.

Existem algumas propostas farmacológicas comprovadamente eficazes para o tratamento da síndrome de dependência de nicotina.

Medicamentos para tratamento da dependência de nicotina

1) Bupropiona (Zyban),

2) Terapia de Reposição de Nicotina

3) Varenicline (Champix). Nortriptilina (Pamelor) e Clonidina (Atensina) são consideradas medicações de segunda linha para o tratamento desta condição, as quais ainda não são aprovadas para esta indicação.

Evite a automedicação

Reposição de nicotina: quando é necessária?

Em geral, a reposição de nicotina é indicada para pacientes dependentes que usam mais de 10 cigarros ao dia, em especial para aqueles que previamente tentaram sem sucesso abandonar o uso. Para pacientes dependentes de nicotina e portadores de doenças psiquiátricas, como esquizofrenia, a terapia de reposição de nicotina é recomendada já nas fases iniciais do tratamento, tendo em vista o consumo mais intenso observado nesses pacientes.

Embora existam 5 formas de reposição de nicotina (gomas, adesivo transdérmico, sprays, inhaler e tablete sublingual), tem-se utilizado no Brasil principalmente a goma e o adesivo. Antes de qualquer administração terapêutica de nicotina, deve-se estar atento às contra-indicações do seu uso, tais como gestação, úlcera gastrointestinal ativa e condições clínicas que impliquem risco de piora de doença cardiovascular grave.

Adesivos transdérmicos: reposição e efeito colateral

Os adesivos transdérmicos têm sido bem tolerados, apesar de cerca de 30% dos pacientes demonstrarem irritação de pele com o seu uso. Os adesivos devem ser trocados diariamente, a redução da dose é paulatina e o tempo de uso pode durar cerca de 01 ano. Pacientes com problemas dentários ou de mastigação ou com dispepsia podem aderir melhor ao emprego dos adesivos do que às gomas. Apesar de efetivo, os adesivos podem não proteger o paciente contra a fissura que surge em situações de risco, como dirigir o automóvel, sentar-se diante do computador ou falar ao telefone. Para estss pacientes, pode-se combinar o uso da goma nessas situações.

Goma de mascar

A goma de mascar pode produzir irritação na cavidade bucal e língua. No entanto, tais efeitos são infinitamente menos prejudiciais do que o consumo de cigarros. O número médio de gomas com 2 mg de nicotina mascadas durante o dia varia de 10 a 20. Cerca de 50% da nicotina da goma é absorvida na mucosa bucal; bebidas ácidas interferem com a absorção e devem ser evitadas durante e cerca de 15 minutos antes do uso da goma.

Bupropiona

Esse antidepressivo foi aprovado em 1997 para o tratamento da dependência de nicotina. Clinicamente, é possível que essa medicação alivie alguns sintomas da síndrome de abstinência, como sintomas depressivos.

Devemos lembrar que toda medicação deve ser prescrita e acompanhada por médico especialista no assunto.

Varenicline

Essa medicação foi aprovada em 2006 para o tratamento de dependentes de nicotina. Tem mostrado eficácia em estudos clínicos.

Nortriptilina

Vários antidepressivos têm sido testados no tratamento de pacientes dependentes de nicotina. Apesar de considerada medicação de segunda linha para esse tratamento e não aprovada para essa finalidade, a Nortriptilina tem mostrado eficácia clínica em alguns estudos, em pacientes portadores ou não de sintomas depressivos. Efeitos colaterais têm sido amplamente descritos, como taquicardia, retenção urinária, boca seca, constipação intestinal e visão borrada.

Clonidina

Com relação ao tratamento da dependência de nicotina, também é considerada medicação de segunda linha, não aprovada para essa indicação. Efeitos colaterais têm sido descritos, como tontura, hipotensão, constipação intestinal e boca seca. Poucos estudos têm avaliado a sua real efetividade no tratamento da dependência de nicotina.

De qualquer forma, o principal fator de sucesso no tratamento da dependência de nicotina é a motivação pessoal para deixar de fumar. O apoio de familiares e amigos se faz de enorme importância.