Ócio prolongado na aposentadoria causa estresse e depressão

por Renato Miranda

Com merecimento muitos trabalhadores esperam ansiosamente o dia da aposentadoria.

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Mais do que um mérito é um direito de todo trabalhador. Já dissemos nesta coluna que o ser humano ganhou muitos anos de vida. Agora o desafio é dar a esses anos qualidade e intensidade para que realmente tenha sentido viver mais.

A vida laboral como se sabe, por mais sacrificante que seja, acaba por preencher nossos dias e nos oferece desafios de tempos em tempos. Claro que a motivação para o trabalho e a vontade de criar e enfrentar desafios é um atributo individual, mas decerto é o trabalho um componente que dinamiza nossas vidas.

Como nós tendemos a viver mais, significa que ao nos aposentar, teremos talvez mais de uma década para dar sentido à nossa existência. O desejável descanso é alcançado em poucos meses e depois… O que fazer?

Existe em todos nós um forte impulso para procurarmos o conforto e a acomodação. Toda vez que sentimos confortáveis e acomodados um bem-estar generalizado se instala em nosso corpo.

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No entanto, a situação de comodidade e conforto não dura para sempre. Com o tempo a falta de novos estímulos (desafios!) produz aborrecimento e estresse. Não é por menos que valorizamos o conforto e a comodidade quando de um resultado de uma temporada de esforços e luta para vencer desafios, provocados por nós mesmos.

Depois de 30 ou 35 anos de trabalho nada mais honroso do que um período de descanso, mas imaginemos uma pessoa saudável nessas condições, caso opte por apenas “descansar”, ela poderá estar falando de 10 a 20 anos. Ou seja, é muito tempo sem algum desafio ou meta. O resultado será um aborrecimento generalizado que poderá desencadear algumas desordens físicas e psicológicas, como a obesidade e a tristeza profunda.

Nosso organismo (corpo e mente) necessita de exercício constante para providenciar equilíbrio interno (homeostase) além de uma considerável proteção cerebral a fim de resguardar nossos neurônios. O “peso” social e o sacrifício pessoal de enfrentar muitos anos doentes não são bons nem para a família, nem para a sociedade (Estado) e tampouco para o próprio indivíduo.

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Possivelmente um dos melhores tributos do ser humano é a criatividade. E ela pode ser exercitada a vida toda, promovendo usufruto positivo para muita gente. Só há criatividade se temos um corpo saudável e uma mente lúcida. Para tanto, a busca constante da boa forma física, o desenvolvimento intelectual e a harmonia psicossocial são determinantes para que tenhamos uma idade adulta avançada (velhice!) de qualidade.

Assim sendo, paralelamente ao trabalho seria muito oportuno o desenvolvimento de algum hobbie preferencialmente ligado a uma habilidade física ou cognitiva (esporte e fotografia, por exemplo). Ou ainda, aprender um instrumento musical, um idioma estrangeiro, outra habilidade artística qualquer, um envolvimento social especial (auxílio humanitário, tutoria pedagógica, e outros).

Enfim, viver com qualidade é desenvolver a si próprio constantemente, buscando de tempos em tempos novas aprendizagens e adaptando estilos de vida conforme os anos de vida e os desafios. Se por um lado a luta pela sobrevivência (trabalho) na juventude não deveria ser sinônimo de ansiedade, na idade avançada a aposentadoria não deveria ser sinônimo de aborrecimento (tédio).

Em síntese exercite-se, crie, invente, pense, desafie, arrisque, fuja da comodidade e do conforto paralisante. Como recompensa: um envelhecimento criativo, saudável e alegre!