A vida passada já passou?

por Roberto Goldkorn

Soa contraditório. Estou constantemente insistindo com meus clientes que não se prendam ao passado.

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Costumo usar a frase/mantra: “Daqui pra frente!” E ainda faço o gesto com a mão, como se cortasse o rabo que os prende ao passado.

Do outro lado da moeda está a ênfase do meu trabalho em levantar os seus scripts da vida passada.

Soa ou não soa contraditório?

Aparentemente. E nada há de mais enganoso que as aparências.

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O passado que eu tanto me empenho em cortar fora, é aquele em que o indivíduo se encontra prisioneiro. O passado onde como numa casa abandonada, em ruínas ele insiste em viver e acha que tem chances de ser feliz. Esse é o passado ruim, o passado como pretexto covarde e ignorante para não encarar o presente.

Às vezes ouço dos mais apegados: “Vou lhe contar o que me aconteceu em 1978 para você poder entender…”

Essa história é revivida tantas vezes na vã esperança de que se contá-la bastante esse passado poderá ser modificado.

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Há gente que fica atolada num determinado ponto do passado e como o seu presente é insatisfatório, esse passado se torna “mágico” é a solução e a causa das desditas do presente.

O passado negativo é aquele que dá ao indivíduo a justificativa para a sua infelicidade do momento. Quando ele localiza em algum lugar no passado a origem do seu mal, suspira fundo, relaxa e sente que está com o dever cumprido.

Esse passado ao ser revivido, em geral editado convenientemente para se adaptar às necessidades do freguês, é entorpecente.

Já os scripts determinantes da vida passada não são lembrados, não estão à disposição na sua biblioteca da memória, mas jazem pulsando no Inconsciente.

O passado “esquecido” está sempre ativo, na linguagem freudiana é “dinâmico”. Tendemos, pois, a sermos teleguiados por esses programas ocultos, mas vivos.

Recentemente relatei as minhas descobertas a uma cliente. Tratava-se de um trabalho sobre seu namorado. Quando eu descrevi a estrutura de sua Alma e o que estava por trás, ela emudeceu no telefone.

Depois de alguns instantes ela disse: então ele está repetindo um padrão. Porque tudo isso que você descreveu aconteceu novamente com ele e o pai dele!
Se ele pudesse entender esses mecanismos que trabalham para rodar em seu Inconsciente, teria chances de mudar o “padrão” e não ficar repetindo o script por falta de coisa melhor para fazer.

Assim o que soa contraditório na verdade é apenas: “uma coisa e outra coisa.”

Estar preso ao passado do qual se lembra, é um artifício tolo e perverso que engana e impede uma ação firme no presente.

Estar preso ao “outro” passado sem sequer saber que ele existe e mora no andar de baixo, é ser guiado por forças ocultas e poderosas.

Quanta perplexidade diante de destinos aparentemente ilógicos? Por que aquele pai odeia seu filho, que tanto se esforça para agradá-lo?

Por que aquele irmão apesar de ter sido tão ajudado pelo outro, o traiu e o prejudicou daquela forma?

Esses scripts carregados de emoção densa, tendem a se repetir por falta de Luz e de Consciência sobre eles.

Freud entendeu perfeitamente o estrago que os conteúdos no fundo do poço do Inconsciente podem fazer e por isso inventou uma vara de pesca para trazê-los à tona.

Esses são os dois passados – irmãos com grande diferença de idade – porém, ambos terríveis se ficarem no escuro.