Baladas: pais não deveriam facilitar ou apoiar o “esquenta”

por Arlete Gavranic

Então a ideia é aquecer, turbinar em casa. Ou seja, já se sai de casa com muito álcool na cabeça" Início de ano e já estamos em clima de Carnaval.

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Sempre vejo colegas das áreas de saúde e educação questionando a distribuição de preservativos no Carnaval.

Será que as pessoas realmente fazem mais sexo nesse período?

Alguns afirmam que sim e tentam mostrar índices elevados de nascimentos nove meses após o Carnaval. Outros justificam que o cansaço da festa e bebidas dificultariam esses encontros, será?
 
Ai começam as preocupações e riscos. Vivemos a tragédia recente em Santa Maria com a perda de muitos jovens. Isso dói em cada pai e mãe que pensa nos riscos que a vida pode colocar para seus filhos.

Mas será que a maioria dos pais orienta de fato os filhos?

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Minha visão em relação às festas de Carnaval não é muito otimista. O problema não está na folia, mas no uso abusivo de bebida alcoólica e drogas.

Para muitos jovens, fazer festa ou ir à balada apenas não tem graça. E beber só uma cerveja virou caretice.

Hoje há uma cobrança pela ingestão de bebidas fortes, destiladas: vodka, cachaça, run, tequila, whisky; essas sim dão “alegria”, deixam você “muito legal”,”louco”, e trazem a sensação de: ‘"sou bom/vou ser admirado pela galera por beber".

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O pior de tudo é que o “esquenta” começa em casa. Muitos pais apoiam… “Bebida na festa é cara”. Então a ideia é aquecer, turbinar em casa. Ou seja, já se sai de casa com muito álcool na cabeça.

Essas bebidas trazem um rebaixamento do nível de consciência. O jovem se solta mais, se acha mais poderoso(a), mais sensual, sente-se mais confiante, mas na verdade a grande maioria desses jovens fica mais vulnerável a riscos.

A oferta de drogas corre solta nos bailes, blocos, festas de salão, nas ruas atrás do trio elétrico…  Sempre há quem ofereça principalmente cocaína, ecstasy (ou a bala), as “figurinhas de heroína” que dissolvem na boca – muitas vezes são colocadas na boca da garota através do beijo sem que ela saiba. Fora as pedras de crack e os cigarros de maconha.

Temos um cenário montado: festa, música, muita bebida e baixo nível de consciência crítica. Tudo isso pode facilitar o uso ou desejo de experimentar alguma droga.

E quanto ao sexo?

Festa, música e bebida juntas sempre resultam em sensualidade aflorada. Isso faz com que as pessoas erotizem o corpo, os gestos, a dança … e é claro que aflora o desejo. Com a sensualidade à flor da pele e o álcool reduzindo a lucidez para tomada de decisões, as relações sexuais acontecem sem proteção. Afinal, quem vai lembrar ou conseguir parar para colocar um preservativo em plena rua, na encosta do muro do prédio, na praça, no banheiro do salão ou no cantão da praia?

Gravidez e doenças sexualmente transmissíveis são os riscos mais presentes. Mais triste é o risco de brigas e acidentes fatais de carro e moto.

Alguns podem achar que estou exagerando. Mas quem atende moçada, convive e conhece as histórias… sabe que esse quadro descrito acima é apenas um flash da realidade.

O que fazer? Trancá-los em casa? Viajar para um retiro espiritual nesse período?

É claro que não! Mesmo pois essa realidade que descrevo ocorre em festas de faculdade, de colégios, de empresas e nas baladas que os jovens frequentam semanalmente.

O papel dos pais deve ser o de orientar, não ser o que estimula ou facilita o "esquenta", dar noção de limites e mostrar que para curtir uma festa não precisa estar chapado. E também estar junto quando possível e ir buscar quando precisar.

Hoje polemizamos e nos assustamos com o número de famílias querendo a internação compulsória de seus filhos usuários pesados de drogas.

Muitas famílias se comportam como se o consumo de álcool e drogas fosse ‘natural’, da idade. Natural é buscar alegria, se autoafirmar testando potenciais.  O abuso de álcool, drogas e sexo desprotegido faz com que nossos jovens vivam uma constante roleta russa, vulneráveis e com a falsa sensação de modernidade, quando na verdade estão desprotegidos e sem orientação de valores e afetos familiares.

Vamos pensar nisso para começar a orientar nossos jovens para vida?