Período após separação pode ser muito fecundo

por Antônio Carlos Amador

Muitas pessoas quando se separam costumam sentir vontade de ficar a sós e de reconquistar plenamente as liberdades perdidas durante o casamento. Neste caso, o período seguinte à separação pode ser muito fecundo e rico se for empregado para conhecer-se melhor e para entrar em contato com pessoas e realidades novas.

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Se, no entanto, faltar o impulso para um envolvimento total e profundo com outra pessoa não há motivo para preocupações. Depois de uma experiência de término de casamento, a pessoa tem todo o direito de ficar hesitante diante da possibilidade de uma nova convivência. Naturalmente, é importante sermos capazes de estar a sós, e é comum que as pessoas se retirem dos relacionamentos exteriores até que se sintam realmente satisfeitas consigo mesmas. Entretanto, cedo ou tarde elas terão de usar os "espelhos", construindo e reforçando o relacionamento consigo mesmas no mundo através da interação com as outras pessoas.

Embora aquelas que optam por viver sozinhas durante um período indeterminado de tempo sejam às vezes rotuladas de superficiais, egoístas e incapazes de ter boas relações com os outros, elas não devem incomodar-se, pois essas críticas estão baseadas no já conhecido e desgastado lugar-comum segundo o qual uma pessoa só pode se considerar completa se tem um companheiro fixo.

Depois de uma separação as pressões sociais e culturais que atuam na vida particular da pessoa tem um poder muito reduzido se comparado ao período anterior. A pessoa separada é, frequentemente, uma pessoa "amadurecida", que já sabe o que representa ceder às pressões alheias.

Além disso, essa maturidade lhe permite reconhecer melhor suas verdadeiras necessidades. Não há nada de estranho, por exemplo, se ela sentir vontade de aventurar-se em relacionamentos amorosos fugazes e se tiver a curiosidade de explorar as pessoas e o ambiente em que vive com um tipo de atenção minuciosa que lhe era estranha quando casada.

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Uma boa elaboração de uma separação pode vir a ser aquele momento de crise que torna a pessoa consciente de sua liberdade individual, isto é, do fato de que cada um é completamente responsável por si mesmo. Essa consciência, caso seja adquirida profundamente, constitui uma grande força que sustenta a pessoa separada nas opções que esperam por ela. Quem prefere viver sozinho por algum tempo não deve pensar que se trata de uma opção que, uma vez realizada, marca irreparavelmente todo o curso da existência. Qualquer que seja a novidade que o futuro reserva, deve-se tentar viver bem no presente. Do mesmo modo, a decisão de viver sozinho não deve ser considerada um ajuste temporário sem importância.

Saber viver com criatividade é o fundamento sobre o qual deveria assentar cada passo de nossas vidas. Viver com criatividade significa fazer com que o presente não seja a repetição obrigatória do passado. Isso depende em grande parte dos relacionamentos com os outros, nos quais, em geral, a pessoa que acabou de se separar vê uma ameaça à própria liberdade. Ao contrário, para viver no presente com plenitude é necessário poder reconhecer com confiança a interdependência que se estabelece entre as pessoas e aceitar sem receios tanto a dependência funcional (coabitação, relações de trabalho, relações familiares etc) quanto a dependência emocional (o desejo e a troca de amor, afeto e atenções). Depois de ter alcançado um bom grau de autonomia e maturidade emocional pode-se viver sem ansiedade também esses tipos de relações sem correr o risco de ser dominado por elas.

 

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