Dificuldades na escola

por Ceres Araujo

"Meu filho está tirando notas baixas na escola. Já cobrei mais esforço, já deixei de castigo, longe da TV, longe dos videogames, mas nada adiantou. Agora, parece desanimado, desmotivado, acreditando que não é capaz de se sair melhor na escola."

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“Meu filho entra em pânico na semana de provas. Tem dores de barriga, de cabeça, dorme mal e não come direito. Na hora da prova diz que deu um “branco” e não consegue fazer nada. Suas notas estão cada vez mais baixas.”

“Meu filho não gosta da escola, diz que detesta estudar. Reluta muito para fazer as lições de casa e, quando faz, é de qualquer jeito, sem atenção e sem capricho. Não estuda para as provas e não lê o que é pedido. Esconde as provas onde tirou notas baixas e já falsificou a assinatura da mãe ao receber notificações. Precisa ser obrigado para produzir o mínimo. Castigos não têm tido resultados.”

Essas, dentre outras, são declarações de pais, que não sabem mais o que fazer, para ajudar seus filhos a se saírem bem na escola. Os motivos podem ser de ordens muito variadas.

Os currículos escolares são elaborados em função da maturidade neuropsicológica das crianças. Assim, acompanhar a classe, responder às demandas escolares deveria ser algo natural para o aluno. O processo do aprendizado escolar, assim como o processo geral de aprender a viver deveriam, por princípio, serem prazerosos.

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A criança é um ser curioso e ávido por aprendizado. Basta lembrar a rica atividade exploratória dos bebês, a fase dos “por quês” no segundo ano de vida, o interesse por histórias no terceiro ano e assim por diante. Dessa maneira, ir para a escola, conhecer amigos novos, ganhar e treinar competências precisa ser interessante, fácil e tranquilo. Quando isso não acontece, algo está errado e deve ser investigado.

Por que meu filho tem dificuldade na escola?

Veja as possíveis causas:

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– Dificuldade de audição e visão

Cabe à escola procurar saber se seus alunos enxergam e escutam bem, se processam adequadamente os estímulos visuais e auditivos, se possuem as habilidades neuropsicomotoras esperadas à idade – condições que irão permitir o acesso desejável ao aprendizado. Sabe-se que nem todas as escolas solicitam os exames médicos necessários, sendo isso verificado em todos os níveis sócioeconômicos.

Transtornos específicos de desenvolvimento

Muitas crianças inteligentes, compensam com esforço intelectual os chamados Transtornos Específicos de Desenvolvimento e conseguem evoluir satisfatoriamente nos primeiros anos do ensino fundamental, mas começam a experimentar mais dificuldades à medida que as solicitações escolares se tornam mais complexas. Os Transtornos Específicos do Desenvolvimento são patologias descritas na CID-10 (Classificação Internacional de Doenças- décima edição) sob número F 81 . Pode-se citar: os Transtornos da Linguagem, que determinam dificuldades na leitura e na escrita, os Transtornos das Habilidades Motoras, que determinam dificuldades no aprendizado da matemática, os Transtornos do Déficit de Atenção. Todos eles, por sua vez, determinam os Transtornos do Aprendizado Escolar, acarretando problemas graves à autoestima e comprometendo o desenvolvimento emocional.

Despreparo da escola

Nem todas as escolas, sabem levantar hipóteses a respeito desses transtornos e os alunos, portadores deles, crescem carregando o estigma de não serem suficientemente capazes e tendem a se comparar desfavoravelmente em relação aos colegas, julgados por eles mesmos, como mais inteligentes e interessantes.

Podem ainda, desenvolver distúrbios de conduta, como oposição e negativismo, que refletem seu mal-estar frente ao fracasso escolar.

Solução

Quando essas crianças são ajudadas oportunamente em suas dificuldades sensoriais ou em suas dificuldades específicas de desenvolvimento, elas podem evoluir sem grandes esforços e frustrações, tendo garantido o prazer pelo aprendizado.

Um ambiente escolar e familiar tranquilo e reforçador é importante para que a criança se sinta apta e estimulada para a construção do conhecimento. Estudar exige esforço, sem dúvida, exige o saber adiar a satisfação de uma necessidade imediata em prol de um prazer posterior, mais durável e as crianças bem amadas, seguras e confiantes são capazes disso.

É necessário que os professores sejam bem capacitados e comprometidos com sua atividade docente, para que os alunos tenham neles modelos adequados para se identificar. É importante, também, que os pais sejam atentos e interessados na evolução escolar de seus filhos para que qualquer dificuldade seja diagnosticada e atendida o mais rapidamente possível.

A nota baixa é um sinal “vermelho” para pais e professores de que algo está errado com a evolução escolar da criança. Não é a ela que deve caber o ônus. A preocupação com a nota baixa deve ser compartilhada com todos os responsáveis pela criança – pais, médicos, professores, psicólogos…, pois sinaliza que algum distúrbio está ocorrendo no sistema do aprendizado escolar daquela criança. Verificar onde está o distúrbio e tratá-lo significa evitar os prejuízos à autoestima da criança com as consequências tão danosas para seu desenvolvimento emocional, social e cultural.