Certeza é uma forma mais convicta de lidar com a dúvida

por Dulce Magalhães

Há momentos na vida em que somos convidados a tomar decisões e rever processos.

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De tempos em tempos isso ocorre e vamos nos aperfeiçoando, mas volta e meia caímos na mesma angústia frente a decisões grandes e importantes.

O duro de uma escolha não é somente eleger o que queremos, mas abrir mão de tudo o que não foi escolhido.

Então, para facilitar o processo fazemos lista de prós e contras, conversamos com amigos, mentores, especialistas, lemos a respeito do assunto, perdemos horas de sono revirando o tema na cabeça, voltamos a conversar com as pessoas mais diretamente envolvidas, e assim seguimos, nesse espremer, torcer e remoer, parav ver se daí tiramos o suco da certeza.

E a certeza não nos dá garantia de nada, é apenas um estado de alívio que nos tira da angústia, pois o mais difícil foi feito, que é tomar a decisão.

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O fato de alcançarmos a certeza não quer dizer que vamos acertar, nem que não haverá percalços. Absolutamente, não é essa a finalidade da certeza, mesmo que fosse o que mais desejávamos. A certeza é apenas o final de um processo de eleição quando, finalmente, temos a confiança suficiente para dizer a nós mesmos que determinada opção é a melhor para nós neste momento.

Uma decisão baseada na certeza não nos isenta de nada, não nos garante nada, não nos protege de nada. E está tudo certo que seja assim, pois assim é a vida e seus caminhos. A certeza é apenas uma forma mais convicta de lidar com a dúvida, não de eliminá-la.

Clareza: estado de entendimento sem margem à dúvida

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Sendo assim, buscar a certeza é natural, porém não é definitivo, nem nos libertará de todas as dúvidas ou dificuldades. Isso só a clareza poderá fazer e aí já é outra história. A clareza é fruto do insight, um estado de entendimento que não deixa margem a dúvidas e que denominamos de óbvio. É algo tão contundente que quando finalmente enxergamos, ficamos surpresos de não ter percebido antes, pois não é a melhor das alternativas, é o caminho único e reto.

Óbvio é tudo aquilo que está oculto pela barreira de nossos paradigmas, de nossos modelos mentais, então olhamos a realidade pensando a partir de pressupostos sobre como deve ser, enquanto o óbvio está bem ali na frente dos olhos, mas não se enquadra em nossa definição e portanto não percebemos.

Contudo, o fato de ser invisível não quer dizer que não exista. Pergunte a qualquer pássaro que tenha atropelado uma vidraça. Somos atropelados pelos processos invisíveis, porém palpáveis da vida, e não temos a menor noção do que sucedeu. Ficamos aturdidos com os processos, as alternativas, as decisões, as mútliplas oportunidades e desafios, e não percebemos que esse aturdimento é por que acabamos de topar de frente com uma barreira de óbvio que ainda está invisível.

É só quando nos permitimos olhar sem querer enxergar o que achamos que deve estar lá, quando nos abrimos para a possibilidade de ver o que estiver na frente, sejá lá o que for, é que enxergamos o óbvio. A certeza é fruto de um processo racional, de análise, de estimativas, de comparações e de pesar entre possibilidades que podem nos apontar o melhor padrão, processo, caminho ou método. Desta forma, poderemos chegar a algum nível de certeza.

Já a clareza vem do insight que é fruto da consciência, da percepção expandida, da intuição que nos permite saber mesmo sem conhecer. O conhecimento pode nos levar à certeza, é o caminho do entendimento racional, mas só a intuição pode nos conduzir ao insight, à percepção do óbvio, quando finalmente sabemos qual é caminho seguir, sem mais dúvidas, sem mais angústias.

O exercício intutitivo é o próprio processo criativo da vida, é dessa forma que renovamos o cabedal de padrões e nos liberamos para novas possibilidades de mundo. Se isso não parece óbvio é por que precisamos experimentar mais da intuição para perceber que as respostas já estão prontas, o mais difícil mesmo é formular a pergunta e se abrir para encontrar o que não está em nossa lista de visões e padrões. Talvez valha recordar um antigo e sábio conselho: há que ter olhos que veem e ouvidos que ouvem.