O mal compreendido caminho das artes marciais

por Elisa Kozasa

Às vezes ouço mães conversando sobre a escolinha dos filhos, qual atividade eles deveriam fazer, e quais não deveriam, e invariavelmente uma delas diz: “Ah! Esse negócio de colocar filho em judô não tá certo! Depois ele vai querer ficar batendo em todo mundo e vai me dar trabalho!” Se for menina então o comentário costuma ser: “Ah! Esse negócio de luta não é pra menina!”.

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Sinceramente, acredito que os pais devem se envolver na escolha do futuro de seus filhos, bem como opinar sobre o que devem ou não fazer, mas me entristece quando a escolha é baseada na ignorância.

As artes marciais, em especial da maneira como foram adaptadas para o mundo ocidental moderno, por alguns mestres do Oriente como Funakoshi, Kano e Ueshiba, que respectivamente são expoentes das artes do karatê, do judô e do aikidô, são fontes de rico aprendizado para crianças e adolescentes.

Por que crianças e adolescentes devem aprender artes marciais

Sob a orientação de um bom professor, essas artes trazem o aprendizado de que nem sempre a vitória irá acontecer, mas que é importante saber lidar com a frustração de perder e estar pronto para os próximos desafios da vida. Que o outro que venceu hoje não é necessariamente um inimigo, mas alguém que, como cada um de nós, está aprendendo a fazer o seu melhor.

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Em especial pais que têm problemas de disciplina com seus filhos, costumam se impressionar com a mudança dos mesmos, quando eles começam a se envolver com essas práticas, pois sem disciplina, não há aprendizado e superação de suas próprias limitações iniciais do treinamento. O jovem ainda é estimulado a cuidar de sua saúde física e mental e estar preparado de maneira flexível para novas situações da vida. Ele aprende a ser calmo e controlado, mesmo sob pressão.

Como qualquer esporte, é claro que envolve riscos, mas muito menores do que os pais (em especial as mães) costumam dimensionar. As quedas foram estudadas no decorrer do desenvolvimento das artes marciais para proporcionar proteção ao corpo que está sendo projetado. Elas ainda desenvolvem reflexos que protegem o corpo e podem salvar vidas em condições de risco de acidentes no dia a dia.

A filosofia que permeia essas artes encoraja o cultivo de valores e da ética, bem como a proteger os mais fracos e a não arrumar brigas a cada esquina, como ocorre quando esses ensinamentos são desvirtuados.

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Tenho vários amigos que praticam ou praticaram essas artes durante a juventude e são em geral pessoas que apreciam a paz e a maioria jamais teve confrontos fora do centro de treinamento.

E talvez o maior aprendizado que elas podem trazer: aprender a se defender de pessoas física e/ou psicologicamente violentas e que geralmente são indivíduos que, infelizmente, não tiveram a oportunidade de aprender uma arte marcial, e muito menos com um professor honrado.

Dicas de leitura:
Stevens J. Três mestres do Budo. Ed. Cultrix, São Paulo, 2008.