Atividade física: uma das maneiras mais fáceis de proteger o cérebro?

por Ricardo Arida

Qual é a pílula ou droga que pode diminuir o colesterol ruim (LDL), aumentar o colesterol bom (HDL), melhorar a sensitividade à insulina, dimunuir a porcentagem de gordura corporal, melhorar o humor e o sono, diminuir o estresse e melhorar a capacidade mental, geralmente sem efeitos colaterais? Nenhum!

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Então, você pode dar a alguém uma medicação para diminuir os lipídeos e então tratar o desconforto ou dor muscular, depois dar um antidepressivo, mas cuidar da perda de peso, e não esquecer de tomar o remédio para dormir.

Alternativamente, você poderia ter um estilo de vida fisicamente ativo. Pode-se pensar que poucos indivíduos sedentários irão aderir ou iniciar um programa de exercício físico. Entretanto, existem evidências mostrando que não precisamos nos focar somente no exercício. Simplesmente, atividades do dia-a-dia como caminhar pode fornecer efeitos benéficos similares aos observados em programas regulares de exercício físico, como os citados no início deste texto.

Nós podemos encorajar nossos pacientes a se tornarem mais ativos fisicamente, e tratar aqueles que apresentam lesões que limitam a atividade física. Existe uma forte associação entre obesidade e lesão músculo-esquelética. Ainda, o aumento do dispêndio de energia pode ser visto não somente para a prevenção das doenças cardiovasculares, mas também como meio de prevenir doenças músculo-esqueléticas.

Estudo

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Estudo realizado recentemente por Hamer e Chida (2008)*, mostrou através de uma revisão que investiga a caminhada como prevenção de doença cardiovascular, uma relação inversa entre caminhada, doença cardiovascular e mortalidade. Outro estudo mostrou que a distância da caminhada estava inversamente relacionada com o índice de massa corporal e circunferência da cintura.

Para resolver o problema de obesidade na população adulta, a prevenção deve começar na população pediátrica. Crianças obesas apresentam grande tendência para serem adultos obesos (Whitlock e col. 2005)**. Crianças gastam a maior parte do tempo das suas horas de caminhadas na escola, e dependendo das condições de moradia, podem ter mais opções para atividades físicas na escola do que em casa (Floriani e col., 2008)***.

Neste sentido, não precisamos ser tri-atletas para usufruir dos benefícios da atividade física; uma caminhada diária pode resolver o problema.

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*Hamer M, Chida Y. Walking and primary prevention: a meta-analysis of prospective cohort studies. Br J Sports Med 2008;42:238–43.

**Whitlock EP, Williams SB, Gold R, Smith PR, Shipman SA. Screening and interventions for childhood overweight: a summary of evidence for the US Preventive Services Task Force. Pediatrics 2005;116:e125–e144.

***Floriani V, Kennedy C. Promotion of physical activity in children. Curr Opin Pediatr 2008;20:90–5.

Atividade física: uma das maneiras mais fáceis de proteger o cérebro?

por Ricardo Arida

Por muito tempo, médicos, pesquisadores e indústrias farmacêuticas têm procurado por compostos farmacológicos com propriedades neuroprotetoras para a as várias doenças do sistema nervoso.

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O tempo vem nos mostrar que as formas naturais para essa proteção, como alimentação e atividade física adequada, são as formas mais fáceis e mais efetivas de proteção para o sistema nervoso.

Um artigo *publicado recentemente com o título Physical activity: one of the easiest ways to protect the brain? (Atividade física: uma das maneiras mais fáceis de proteger o cérebro?) enfatiza essa observação. A famosa frase derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal “mens sana in corpore sano” expressa a importância da prática da atividade física.

Os benefícios do exercício físico na saúde mental e nas doenças neurodegenerativas foram comentados várias vezes em textos anteriores (clique aqui).

Outra pesquisa recente deste ano** confirma a possibilidade do exercício físico exercer proteção contra o acidente vascular cerebral encefálico (AVE). Esse benefício parece acontecer para atividades físicas moderadas por mais de duas horas por semana. Isso porque a quantidade (volume) é importante para obter um estimulo adequado. Se você fizer atividade fisica, por exemplo, uma vez por semana, quais são os efeitos para seu sistema cardiorespiratório? Atividade física por periodo curto e poucas vezes por semana não melhoram significativamente sua condição cardiorespiratória. Isso acontece também no cérebro.

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Em contrapartida, atividades muito intensas podem exercer efeito deletério. Ou seja, uma atividade exaustiva, onde o nivel de estresse e grande. Os
trabalhos na literatura nao são ainda muito consistentes quanto a isso, mas tendem a colocar essa observaçao.

Salientando os efeitos positivos da atividade física, outro estudo também demonstrou que um programa de seis meses de exercício físico proporcionou uma melhora da cognição de idosos. Vários mecanismos são propostos para esses benefícios. Um dos mecanismos envolvidos no AVE é a melhora do fluxo sanguíneo cerebral pelo aumento da liberação de ***óxido nítrico. Neste contexto, é importante salientar que os efeitos da atividade física no cérebro pode ser aumentado com o concomitante consumo de Omega-3, (ácido graxo poliinsaturado) um compostos que tem o mesmo mecanismo de ação****.

Tendo em vista as ações benéficas da atividade física nos vários sistemas do nosso organismo, o estudo científico nos deixa cada vez mais convincentes que a atividade física pode ser uma das maneiras mais fáceis de proteger o cérebro.

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* Deplanque D, Bordet R. Physical activity: one of the easiest ways to protect the brain? J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2009 Sep;80(9):1019-22.

** Stroud N. et al. Prestroke physical activity and early functional status after stroke. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2009;80:1019-22.

***O óxido nítrico funciona como uma importante molécula sinalizadora capaz de facilitar a dilatação dos vasos sanguíneos e de reduzir a resistência vascular, sendo produzido através de três isoformas da enzima NO sintase: nNOS (neuronal), eNOS (endotelial) e iNOS (induzível). Durante o exercício físico, onde uma redistribuição no fluxo sanguíneo em direção aos músculos ativos é verificada, o óxido nítrico pode apresentar um papel fundamental na vasodilatação local.

**** van Praag H. Exercise and the brain: something to chew on. Trends Neurosci 2009;32:283-90.