Todos os envolvidos são prejudicados pela dificuldade em se manter regras

por Angelina Garcia

Finalmente em casa, depois da atribulada semana de trabalho. Nunca reclamou café na cama, ou que lembrassem do chocolate de que mais gostava ao retornarem no final de tarde. Isso é coisa de mãe para filho, não o inverso, conformava-se. Mas, no mínimo, gostaria de encontrar a casa tal como deixou.

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O marido fora transferido para outra cidade, e ela, para não perder o emprego, continuou ali com os dois filhos também empregados. Por sair bem antes, entendia que os rapazes tinham tempo suficiente para tirar os próprios copos e pratos da mesa do café, que ela já deixava posta. Nem isto, nem o resto do leite de volta à geladeira, nem as luzes apagadas. E as camas desarrumadas da moçada continuavam lá olhando, sem um pingo de vergonha, para Dona Neusa.

Eles trabalham fora o dia todo, mas eu também, pensou. Toda manhã deixava as mesmas recomendações, mas parece que eles não ouviam, e se ouviam, entravam por um ouvido e saiam pelo outro. Não lhe sobrava apenas o desgaste de arrumar o desarrumado, já que não suportava ver coisa fora do lugar, mas também a irritação por insistir no mesmo, por sentir-se agredida, por começar a achar que “não tem jeito mesmo”.

Precisa ter. Conviver é um aprendizado para a vida toda, mas o processo deve evoluir. Faz mal às duas partes, quando uma se sente sobrecarregada pelas responsabilidades da outra. Para quem faz, chega a hora do estouro, por conta do cansaço e das sensações desagradáveis. Quem não faz vai acumulando culpa, e cobrado em situação de confronto, em vez de assumir sua parte, põe-se a encontrar desculpas, ou arma uma tremenda discussão para se desviar do assunto. Mais desgaste.

Regra é para ser colocada e cumprida, não para ser lembrada o tempo todo. O copo e o prato que continuem na mesa até que os usuários os retirem. Vale o mesmo em relação à cama, à caixinha de leite e tantas outras coisas que vão deixando pelo caminho. A paciência de quem faz deve estar disponível para suportar a desorganização do outro, até que ele faça o que lhe cabe; não para fazer sempre em seu lugar.

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Há quem se sinta bem realizando tarefas no lugar do outro. Ainda assim, está se esquecendo de que não durará para sempre, além de interferir negativamente no processo de amadurecimento de quem recebe cuidados em exagero.