Abstinência, mesmo após anos, pode gerar ansiedade

por Danilo Baltieri

“Tenho muita ansiedade e inquietação. Já fui usuário de drogas e álcool; parei de usar faz 4 anos, mas agora tenho tido muita ansiedade e insônia. Como devo proceder?”

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Resposta: De fato, para substâncias que induzem quadros de síndrome de dependência com sintomas de síndrome de abstinência, tais como opioides, álcool, canabinoides, cocaína e outros estimulantes, sintomas indesejáveis como ansiedade, depressão, falta de prazer, irritabilidade, fissura podem ocorrer meses depois da parada total do uso.

A síndrome de abstinência de substâncias pode ser aguda ou protraída – explico detalhadamente mais abaixo. A síndrome de abstinência dita “aguda” é aquela caracterizada por sintomas físicos e/ou psicológicos advindos da parada ou redução abrupta do consumo da substância alvo. Para cada tipo de substância, uma constelação de sintomas é esperada clinicamente dentro de um período de tempo específico.

Abaixo, forneço uma tabela com os períodos de tempo médios para a síndrome de abstinência “aguda” de substâncias específicas:

Substâncias Tempo para os sintomas da síndrome de abstinência Álcool Uma a duas semanas Benzodiazepínicos (clonazepam, diazepam, alprazolam, Bromazepam etc) Uma a cinco semanas Cannabis Uma a duas semanas Nicotina Duas a cinco semanas Anfetaminas Uma a três semanas Opioides Uma a seis semanas

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Lembro que a tabela acima apresenta os tempos médios e não considera a gravidade das síndromes de abstinência aguda que pode ser bastante variável. Também, para as síndromes de abstinência de opioides e benzodiazepínicos, o tempo dos sintomas da síndrome de abstinência aguda pode ser bem maior, dependendo do tipo de substância utilizada, do tempo de consumo, das características do indivíduo, do tratamento medicamentoso instituído.

Quando o indivíduo se torna dependente de uma substância, como o álcool e cocaína, alterações cerebrais, especialmente funcionais, acontecem de forma incisiva e permanente. Realmente, modificações moleculares, celulares, e envolvendo o circuito de neurotransmissores ocorrem, acarretando manifestações clínicas nesses indivíduos. Isso faz com que alguns indivíduos experimentem sintomas semelhantes aos de uma síndrome de abstinência dita “aguda” cerca de meses após o último consumo. A esse quadro damos o nome de síndrome de abstinência protraída (também chamada de síndrome de abstinência crônica, tardia, persistente, pós-aguda, subaguda).

Vários sintomas comuns às diversas substâncias têm sido descritas, tais como: ansiedade, depressão, problemas de memória, fadiga, irritabilidade, dificuldade de foco, fissura, falta de prazer (anedonia), reduzido interesse em sexo, queixas físicas vagas e insônia.

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Infelizmente, pacientes afetados pela síndrome de abstinência protraída podem desejar aliviar os sintomas retornando ao consumo das substâncias. Por isso, é importante que o tratamento médico e psicológico possa ser continuado, tendo em vista que a síndrome de dependência de substâncias é uma doença crônica que requer manejo prolongado. O paciente deve ser advertido de que esses sintomas podem ocorrer e que o processo de recuperação é longo. É importante lembrar que tais sintomas não são permanentes e que podem ser amenizados com um tratamento correto e baseado em evidências científicas.

Como lidar com a síndrome de abstinência tardia?

Abaixo, aponto algumas sugestões para os pacientes:

a) Os pacientes devem ser ativos, engajando-se em atividades físicas e intelectuais estimulantes;

b) Evitem os gatilhos, ou seja, situações ou atividades que disparem o desejo de utilizar as drogas;

c) Tentem ser pacientes de fato;

d) Aconselhem-se periodicamente com médicos especialistas. Eles auxiliarão no combate aos sintomas indesejados da síndrome de abstinência. Medicações podem ser ferramentas úteis nesse processo;

e) Tratamentos que reforcem a necessidade de exercer atividades diárias e auxiliem no manejo do impulso são recomendados;

f) Sempre monitore os sintomas e os compartilhe com seu médico.

É importante ressaltar aqui que, muitas vezes, o indivíduo que se tornou dependente de uma substância também sofre de outros transtornos mentais e do comportamento, como depressão e ansiedade. Assim, os sintomas dessas outras doenças podem ser confundidos, pelo menos a alguma extensão, com os sintomas de uma síndrome de abstinência protraída. Assim, é importante que você procure auxílio médico especializado para determinar qual é a razão dos seus sintomas e os maneje de forma correta.