Será que você sofre da ‘síndrome de super-herói’?

por Roberto Shinyashiki

Gostaria de convidar você a refletir um pouco sobre seus heróis. Pense por alguns segundos nas pessoas que você admira.

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Quando proponho essa reflexão em meus seminários, em geral ouço descrições que lembram os super-heróis das histórias em quadrinhos ou do cinema. Heróis com superpoderes que nada têm a ver com o mundo real. A maior parte deles são mitos criados no imaginário das pessoas. E você e eu já sabemos que alguém assim não existe.

Apesar de ter plena consciência de que essa imagem não passa de pura fantasia, a maioria das pessoas embarca nela de cabeça. E se ilude querendo mostrar que são superexecutivos, superempresários, supermães, superprofessores, superamantes.

Queremos ser unanimidade! Desejamos impressionar as pessoas o tempo todo. Insistimos em ser aplaudidos pela população mundial. E, para conseguir esse reconhecimento, tentamos desesperadamente parecer aquilo que não somos em nossa essência: pessoas de aço, indestrutíveis, inabaláveis.

Não estou dizendo que a pessoa que procura dar sempre o melhor de si em cada ação está errada. Ao contrário. É altamente positivo buscar a excelência em cada coisa que fazemos. Isso não quer dizer, no entanto, que sempre sairemos vitoriosos de nossas batalhas.

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Ninguém consegue ganhar todas as disputas da vida. Nem Zico, nem mesmo Pelé realizaram todas as metas de sua carreira, mas nem por isso fracassaram. Quem exige de si vencer o tempo todo está se candidatando a viver crises de depressão ou, pior ainda, agir sem ética para vencer a qualquer preço. Quem precisa se sentir importante o tempo todo está criando um grande vazio em sua vida…

Essa é uma ilusão perigosa. Alguns conhecidos meus, por exemplo, esperam ansiosamente que a empresa os chame no fim de semana para resolver um problema urgente. Parecem aqueles médicos que ficam com o olhar brilhando quando um paciente os chama no sábado à noite. A interpretação deles é a seguinte:

– Sou tão importante e indispensável que a organização não sobrevive um único segundo sem mim.

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No entanto, seria mais eficaz pensar em algo como:

– Estamos tendo problemas urgentes com muita frequência. Como nossa equipe pode se organizar melhor? Onde precisamos melhorar nossos processos?
Raras pessoas têm consciência de que uma empresa organizada não precisa de sobressaltos.

É preciso estar muito consciente para não embarcar nesse jogo de aparências e não se deixar envolver em atividades sem sentido para sua vida. Perdemos um tempo imenso correndo atrás da bagunça que criamos para nos sentir importantes. Desperdiçamos a vida porque ficamos brincando de super-heróis, prontos a entrar em ação.

Poucas pessoas percebem que viver para apagar incêndios é como correr em uma esteira ergométrica na academia: despende-se muito esforço para chegar a lugar algum. Se na esteira o ato de caminhar é um exercício para melhorar a forma física, na vida essa esteira ergométrica conduz apenas ao cansaço físico e mental. As pessoas se matam, ficam frustradas e o que permanece é uma incômoda pergunta: para que tanto sacrifício?

O problema é que acabamos entrando nessa viagem maluca de ser sensacionais em tudo e destruímos nossa paz de espírito. Na verdade, o ponto de equilíbrio é aliar a qualidade de vida ao sucesso. A questão não é medir o tamanho do sucesso, e sim estar atentos ao preço que pagaremos para conquistá-lo e, principalmente, lutar por objetivos que tenham sentido para nós.

Contudo, a loucura é tamanha que a gente não para para pensar no que está fazendo ao entrar nessa corrida da esteira ergométrica. Seguimos adiante como máquinas, querendo mostrar que somos super-heróis.