Você sabe trabalhar sob pressão? Há outra saída?

por Roberto Santos

 

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“Agilidade para aprender é uma habilidade valorizada no mercado quando o assunto é trabalhar sob pressão”

Nosso mundo nunca viveu tanta turbulência – mudança é a única coisa permanente em nossos dias. Esta frase já era ouvida no início dos anos da década de 1970, com o prenúncio da Era da Informação que seguiu à Era Industrial, conforme anunciado por Alvin Toffler (escritor futurista) em seu livro “A Terceira Onda”. Muitas mudanças previstas foram realizadas mas nunca pararam e assumem ritmo cada vez mais vertiginoso.

Um acrônimo surgido nos anos da década de 1990 entre os militares e atualmente usado para se retratar a turbulência que desafia a liderança estratégica é: VUCA ou (em Português) VICA: Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade.

Em que se baseia a pressão no ambiente de trabalho?

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Volatilidade tem a ver com o tipo de mudanças que enfrentamos e principalmente sua velocidade. Enfrentamos desafios decorrentes de instabilidades repentinas no mercado e no ambiente que requerem rápida adaptação de nossos sistemas para não entrarmos em colapso.

Incerteza é resultante da falta de previsibilidade e as surpresas que vivemos com alta frequência em nosso mundo atual que dificultam o planejamento. Podemos até conhecer as variáveis de um problema mas uma mudança pode colocar tudo em risco.

Complexidade – talvez o que aprendemos mais dura e expressivamente nas últimas décadas é a complexidade gerada por uma economia globalizada e as forças multifacetadas em outros aspectos – políticos, sociais, psicológicos – que geram confusão e sensação de caos em todos os níveis.

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Ambiguidade é percebida pela quantidade de paradoxos carregados de ambuiguidade que batem à nossa porta e gritam em nosso ouvidos. Os problemas – aqueles desvios do esperado que precisamos descobrir a causa e corrigir – são inofensivos, diante de paradoxos em que não se tem uma resposta única como no caso de um problema. Devemos focar no mercado local ou global? Devemos priorizar a vida familiar ou o trabalho? Priorizamos o curto ou o longo prazo? O mundo de hoje é recheado de ambiguidades.

E o que isso significa para os pobres mortais que trabalham em organizações imersas num mundo de VICA?

Segundo o especialista em liderança Kevin Cashman, em artigo de 2013 publicado na Revista Forbes, “Para ter sucesso em nosso mundo volátil, complexo e ambíguo, nós não temos escolha que não se desenvolver até a maestria em nossa habilidade de aprendermos e nos adaptarmos.”

Em nosso mundo que as fórmulas do passado não se aplicam por que causas e efeitos se confundem em paradoxos em constante mudança, o conhecimento acumulado de dados, teorias e métodos tem pouco valor. Fazer novas leituras instantâneas do cenário que se apresenta, descobrir conexões de elementos até então desconhecidos, enfrentar ameaças que demandam tomada de riscos até então distantes são dos desafios que temos que lidar. A consequência: uma pressão intensa no dia a dia que vem do mercado, do ambiente globalizado e cai sobre a mesa e a cabeça de cada um de nós, em formas das mais variadas.

Por este motivo, recentemente, uma competência de maior valor no mercado de trabalho é a “Agilidade para Aprender“. Relacionada dentre mais de 40 competências que fazem parte do “cardápio” do “Arquiteto de Carreira“, criado pela consultoria americana Lominger e hoje comercializado pela gigante Korn-Ferry, ela está adquirindo uma notoriedade impressionante. As grandes empresas correm atrás de formas de medir o quanto seu talentos de liderança possuem a Agilidade para Aprender que se define por cinco dimensões:

1ª) Agilidade Mental: capacidade de pensar criticamente para decifrar problemas complexos e de fazer conexões inusitadas e originais para lidar com esta complexidade.

2ª) Agilidade com Pessoas: capacidade de entender e se relacionar com as pessoas de forma a conseguir o desempenho coletivo, nitidamente dependente de outra exigência do mundo moderno – a inteligência emocional.

3ª) Agilidade para Mudança: curiosidade intelectual, gosto pela experimentação e capacidade de operar em situações ambíguas, correr riscos diante de dilemas.

4ª) Agilidade para Resultados: capacidade de tomar iniciativas, assumir desafios com confiança em si mesmo e nas outras pessoas, com resiliência e otimismo.

5ª) Autoconhecimento: talvez a base de todas as demais – capacidade de se avaliar e se criticar para entender nossos pontos fortes e vulnerabilidades, compreendendo o impacto pessoal e sobre os demais.

Alguns leitores do Cyber Carreira do Vya Estelar (veja aqui) questionam sobre uma pergunta que vem sendo cada vez mais frequente em entrevistas de seleção:

“Você consegue trabalhar sob pressão?”

Diante dela, obviamente, vem aquela enxurrada de perguntas: Pressão, que tipo de pressão? Trabalhar mais de doze horas por dia? Sacrificar minha vida social e familiar? Fazer algum “trabalho sujo” que resvala no antiético? Trabalhar para dois ou três chefes ao mesmo tempo com demandas conflitantes?

E o que responder – afirmar categoricamente que você é o “robocop corporativo” e nada, nem ninguém consegue dobrá-lo? Ou coloca seus limites do tipo de pressão que está disposto a aguentar, correndo o risco do entrevistador incompetente exclui-lo do processo porque você não cumpriu seu “check-list”?

Diante de entrevistadores medíocres, uma mentira deslavada de que você topa qualquer parada pode ser suficiente. Entretanto, é necessário se preparar para entrevistadores preparados e inteligentes que diante de sua resposta positiva à pergunta sobre a capacidade de trabalhar sob pressão, fará perguntas pedindo para você exemplificar situações passadas em que você viveu pressões importantes no trabalho e como você se saiu.

Se temos algo interessante e verdadeiro para compartilhar, a descrição do cenário atual do mundo VICA e as dimensões apresentadas da competência de “Agilidade de Aprendizagem” servem para identificar e estruturar nossas histórias de uma maneira mais inteligente e convincente.

Você pode, por exemplo, relatar uma experiência em sua carreira, em que assumiu um cargo de complexidade muito maior do que estava acostumado e como você foi ágil para avaliar o que precisava aprender para dar conta do recado.

Outra situação vivida em sua carreira pode ser a de um convite para uma mudança de cidade, país, área de trabalho em que as incertezas demandaram sair de sua zona de conforto e o quanto você se dispôs a aceitar a mudança rapidamente, mesmo com as incertezas e ambiguidades do novo cenário.

Naturalmente, estamos falando de pessoas que têm um perfil de personalidade mais propenso a desenvolver as competências descritas; para elas, organizar suas vivências dessa maneira é relativamente fácil.

Porém, há pessoas cujo perfil é avesso à tomada de riscos, que precisam de previsibilidade e certezas em seu dia a dia, que procrastinam decisões e evitam tomar inciativas que podem dar errado e serem criticadas. Essas pessoas sofrem com as pressões do mundo baseado em volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.

O dilema que se coloca para essas pessoas é: “Minto na entrevista e tento sobreviver no emprego o maior tempo que conseguir ou uso de sinceridade e busco um cargo em uma empresa onde, na medida do possível, a pressão me será suportável?”

Para responder a esta questão, a quinta dimensão da competência de agilidade para aprender é essencial: autoconhecimento e a esta eu acrescentaria, integridade consigo próprio e com o mundo a seu redor.