Traição sinaliza crise?

por Anette Lewin

“Tenho 18 anos de casada, tenho um marido maravilhoso, mas se a gente sai para algum lugar, ele quer estar sempre grudado em mim. De uns tempos pra cá, quero mais liberdade, tipo coisas de mulher, ir à sorveteria com as amigas. Porém, ele fica pra morrer. Se digo isso, ele não aceita, e para completar, estou de caso com um colega de trabalho. Minha consciência pesada, mas tão boa essa sensação. Não sei como agir. Será uma crise no meu casamento?”

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Resposta: Talvez este seja o momento de sua vida em que você esteja percebendo que suas necessidades afetivas vão além de “um marido maravilhoso” e se sente confusa e culpada por isso. Nesse sentido, não seria o casamento que está em crise , mas sim você mesma.

Seu marido, provavelmente, sempre ficou grudado em você e, durante um bom tempo, esse grude deve ter sido interpretado como um sinal de afeto e carinho. Só que houve, de sua parte, já mais madura e ciente de um casamento seguro, o despertar de novas necessidades, novas vivências, novas conquistas. Talvez seja importante para você voltar a testar a sua capacidade de ainda ser interessante para as pessoas; talvez queira voltar a sentir o prazer de namorar alguém e sentir-se mobilizada por uma nova oportunidade afetiva. Até aí, bastante comum na fase de vida em que você está. O que você precisa resolver é se, frente a essas novas necessidades, quer continuar casada, ou não; e caso queira, como conciliar todas essas novas necessidades com o casamento.

De certa forma você já tomou algumas resoluções e começou a construir seu mundo de novas emoções: está de caso com um colega de trabalho e acha isso bastante mobilizador. Só que, por ser um comportamento não convencional, classificado em nossa sociedade como traição, a administração dessa situação fica um tanto quanto complicada. E ao escrever e pedir socorro a esta coluna, você, de certa forma acena para um aval, uma “autorização”. É claro que ninguém pode colocar um selo de validade em seu comportamento. Você é livre para viver sua vida do jeito que quiser desde que assuma, sozinha, os riscos gerados pelo seu comportamento. Só você pode saber se é melhor acabar com o casamento, acabar com a relação extraconjugal, conciliar os dois, ou abrir o jogo com seu marido.

Por enquanto, sua opção está sendo uma tentativa de conciliação de suas necessidades. Mas não está sendo possível obter a cumplicidade de seu marido como você gostaria. É claro que seria bem mais fácil dividir com ele suas necessidades pessoais. Você teria um aliado, estaria livre da culpa é ainda teria um ombro amigo para chorar quando as coisas não dessem certo. Mas na sociedade em que você vive, isso é quase impossível!

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Lembre-se que, como foi dito, se você quiser viver a vida do seu jeito, dificilmente encontrará cúmplices. Terá que administrá-la sozinha, com seus recursos emocionais encarando, como diz a letra de Dom de Iludir de Caetano Veloso, “a dor e a delícia de ser o que é”.

Caso chegue à conclusão que prefere se separar, tente avaliar como será sua vida daqui para frente. Neste momento é muito fácil encantar-se com as perspectivas de poder namorar à vontade, sair com as amigas, fazer o que quiser. Mas se o casamento, com o passar dos anos, cansa, por mais paradoxal que isso possa parecer, liberdade demais também pode cansar. Assim, evite tomar qualquer decisão radical antes de ter colocado na balança perdas e ganhos. E tente aprender a fazer esse balanço com sua própria cabeça, pois a resolução que tomar, sempre terá que ser assumida integralmente por você. Sem arrependimentos, sem apontar culpados e, de preferência, com a cabeça erguida, posição de quem ousa tomar as rédeas de sua própria vida.

 

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