Você sempre troca farpas com seu parceiro? Saiba o que está por trás disso

por Antônio Carlos Amador

 “Há casais que não fazem esforços para dialogar, nem para mudar o rumo dos acontecimentos. As pessoas apenas se suportam mutuamente, evitando a intimidade e trocando farpas constantemente”

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O relacionamento afetivo entre duas pessoas compreende uma multiplicidade de possibilidades e escolhas dramáticas.

Um casamento envolve mais do que simplesmente amor romântico: os laços de estima são constantemente testados pela convivência diária e a relação só perdura dentro de parâmetros saudáveis se houver uma disposição dos membros do casal para dialogar e negociar com frequência, podendo cada um dos parceiros expressar seus sentimentos e necessidades.

É importante que cada um esteja preparado para ouvir a outra parte e para ceder quando necessário, mostrando-se uma pessoa autônoma, que é espontânea, flexível e não tolamente impulsiva. E que assume e aceita a responsabilidade por suas próprias escolhas, aprendendo a enfrentar novos desafios e a explorar novas formas de pensar, sentir e responder.

Entretanto, há casais que não fazem esforços para dialogar, nem para mudar o rumo dos acontecimentos. As pessoas apenas se suportam mutuamente, evitando a intimidade e trocando farpas constantemente.

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Abuso emocional: hostilidade além do limite para controlar o outro

Quando não sabem mais trocar carícias, elas se alternam distribuindo desqualificações. Geralmente, o parceiro mais controlador e agressivo pode manifestar uma hostilidade que vai se tornando explícita, pública, fora de controle. Surgem as reprimendas, as humilhações, as críticas, xingamentos, gritos, ameaças e acusações excessivas que, quando passam do limites se tornam abuso emocional. Esse conceito foi definido por Engel (em seu livro The Emotionally Abused Woman:Destructive Patterns and Reclaiming Yourself) como qualquer comportamento que visa controlar alguém por meio de medo, humilhação e agressões verbais ou físicas.

Isso inclui desde abuso verbal e críticas constantes até táticas mais sutis, como intimidação, manipulação e recusa a se mostrar satisfeito. O abuso emocional se assemelha a uma lavagem cerebral, pois sistematicamente corrói a autoconfiança, o amor-próprio, a confiança nas próprias percepções e o autoconceito da vítima. Seja por meio de repreensões e depreciações constantes, de intimidação, ou sob o pretexto de “orientação” ou ensino, os resultados são semelhantes. Por fim, a vítima perde todo o sentido de eu e tudo que lhe resta de amor-próprio. E, nessa situação de fragilidade, é fora do casamento que muitas vezes ela vai buscar a solução de seus problemas.

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Abuso emocional permeia todas as esferas relacionais

O abuso emocional não se limita apenas às relações conjugais, podendo existir em todas as outras relações, no sistema familiar e fora dele. Por exemplo, no relacionamento pais-filhos, nos relacionamentos no ambiente de trabalho e nas escolas. É preciso que as pessoas tomem consciência disso e sejam capazes de perceber quando estão perto de passar o limite do tolerável nas interações com seus semelhantes, pois quem rejeita a consciência, a espontaneidade e a intimidade também rejeita a responsabilidade de moldar a própria vida.

Quantas e quantas vezes não culpamos os outros pelos nossos problemas, sem olhar para os nossos medos, nossa impotência e solidão, para os ciclos de carência, desejo e frustração que nos impelem a começar e a terminar relacionamentos afetivos?