O que meditação e psicoterapia têm em comum?

por Elisa Kozasa

Hoje recordo-me quando estive no International Congress of Cognitive Psychoterapy (Congresso Internacional de Psicoterapia Cognitiva) na Suécia (2005).

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A psicoterapia cognitiva é uma abordagem terapêutica que tem tido grande desenvolvimento nos últimos anos, pois é uma terapia focada em problemas específicos, com resultados avaliados pela literatura científica, e que trabalha diretamente na maneira em que interpretamos situações do cotidiano.

Por exemplo, podemos ter a tendência de “catastrofizar” nossos problemas e com isso nos sentirmos bastante afetados e ansiosos.

Nessa abordagem psicoterapêutica, o cliente será orientado a perceber essa tendência exagerada em primeiro lugar, e a tentar observar os fenômenos que ocorrem no dia-a-dia de maneira real, sem hiperdimensionar conflitos e situações.

O que mais me impressionou nesse congresso, foi a abertura desse evento em que o criador dessa modalidade terapêutica, Aaron Beck, reuniu-se em um interessante diálogo com o Dalai Lama.

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Talvez há alguns anos pudéssemos nos perguntar o que teriam em comum esses dois homens, um cientista e outro budista. Porém aqueles que de alguma maneira têm acompanhado na mídia, ou nos últimos artigos científicos o tema controle de ansiedade e estresse, ou ainda o tratamento de depressão já se depararam com a meditação recomendada como técnica complementar, sobretudo associada à terapia psicoterapia cognitiva.

Nesse diálogo, duas formas de estudar a mente estavam sendo confrontadas: uma objetiva, através de escalas e de medições fisiológicas e outra subjetiva cujo instrumento principal é a prática de meditação. A meditação pode ser utilizada para acessar estados de consciência que nos permitam conhecer a origem de nossos pensamentos e emoções, permitindo-nos aprender a lidar com elas.

Link: meditação e psicoterapia cognitiva

O treinamento de atenção focada, durante a meditação, é uma porta para expandir a capacidade de controlar a nossa vida interior. Um foco de atenção nas emoções proporciona estratégias práticas para gerirmos as emoções.

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Aqui talvez comece o link com as estratégias da psicoterapia cognitiva, uma vez que as práticas meditativas podem colaborar na identificação dos pensamentos distorcidos e que nos levam à ansiedade e outras formas de sofrimento.

Ajudar a superar a ansiedade e outras formas de sofrimento é o objetivo não apenas da psicoterapia, mas também das práticas meditativas de várias tradições. Tendo percebido isso, alguns pesquisadores como John D Teasdale, conceberam a chamada Mindfulness Based Cognitive Psychotherapy (MBCT), que poderia ser traduzida como Psicoterapia Cognitiva Baseada na Atenção Plena.

Alguns artigos científicos mostram que a aplicação dessa prática pode reduzir, por exemplo, a recaída de pessoas com depressão pela metade. Ela nada mais é que a Psicoterapia Cognitiva associada a estratégias de desenvolvimento de maior consciência como a prática de meditação.

Trata-se do resultado de uma bem sucedida combinação entre a psicoterapia ocidental com uma prática milenar oriental.

O que você acha de na próxima vez que estiver “catastrofizando” um problema, parar, respirar fundo observar as sensações, o que está realmente acontecendo, e resgatar um estado de calma?

Respiração

Você pode inspirar profundamente pelo nariz e expirar lentamente pela boca, uma, duas e três vezes e observar…

Dicas de leitura

Goleman D. A mente meditativa: as diferentes experiências meditativas no oriente e no ocidente. São Paulo: Editora Ática; 1998.
Goleman D. Como lidar com emoções destrutivas: para viver em paz com você e os outros. Editora Campus, Rio de Janeiro, RJ, 2003, p. 354-355.
Kabat-Zinn J. Full catastrophe living: using the wisdom of your body and mind to face stress, pain, and illness. Bantan Dell, New York, 2005.

*John D Teasdale: pesquisador da universidade de Cambridge, na área de cognição no processo da depressão