Convergências

por Roberto Goldkorn

 “… lembre-se de engrossar a voz quando foi brigar e de adoçá-la quando quiser obter carinho e atenção para o afeto”

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Entre tantos assuntos que me fascinam, está a origem da linguagem falada. Como sou especialista em nomes (nomelogia), me interessa saber a gênese dos nomes; como eles acabaram sendo a representação da coisa nomeada de tal modo que passam a ser um veículo de acesso a essa mesma coisa nomeada.

Os especialistas divergem muito sobre essas origens remotas e há pouco de realmente científico além das especulações mesmo que encantadoras. Assim o que nos resta a fazer e escolher um lado dessas disputas eruditas e adotar esse ponto de vista. É o que faço. Estou nas fileiras daqueles que acreditam na origem vocálica da linguagem. Uso vocálica aqui não como uma redundância do simples vocalizar, mas pela linguagem que continha apenas vogais. Isso tem uma tremenda convergência com a numerologia que pratico, onde desvendamos a “Alma” de uma pessoa – o seu mais profundo âmago – pela soma dos valores das vogais do seu nome, enquanto as consoantes respondem pala Personalidade, mais elaborada e mais farsesca.

Observando a “linguagem” de animais superiores, os esudiosos perceberam que o repertório de sons muito limitado lança mão de um engenhoso artifício que deve ter sido o mesmo usado pelos nossos ancestrais – o uso de tons mais graves e/ou mais agudos para mudar o significado da comunicação. Assim por exemplo UÊÊ se pronunciado de forma mais aguda poderia signifcar algo do tipo: “Eu gosto de você, ou venha cá que lhe cato os piolhos”. Mas o mesmo som se pronunciado de forma mais grave denotaria que algo grave mesmo – desculpem o trocadilho – estava requerendo ação urgente do bando e seria algo assim: “Inimigos se aproximando, fujam ou se preparem para o contra-ataque”. Isso para que fizessem uma leitura mais acurada das tantas possibilidades da linguagem corporal, exatamente como fazemos hoje (e mais as percepções sensoriais dos membros do grupo), completariam o significado.

Eram eras de poucas emoções, só as básicas: afeto, medo, curiosidade, raiva, fome, agressividade, fuga, proteção da prole, desânimo, inveja, etc. A linguagem de graves e agudos e apenas as vogais davam com sobra para o gasto e assim a humanidade prosperou.

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Os muitos milhares (talvez centenas de milhares) de anos cultivando essa linguagem tão básica e ao mesmo tempo tão rica e engenhosa (por sua parcimônia) plasmou programas cerebrais primitvos, mas que ainda hoje sobrevivem nas estruturas do chamado paleocérebro. Assim o tom da voz pode ser capaz de deflagrar emoções instantaneamente, e tanto a arte quanto a vida cotidiana explora esse fenômeno.

Por isso em um treinamento de assertividade com um cliente de 13 anos ao pedir que engrossasse o tom de voz para obter uma energia mais agressiva ele imediatamente cerrou os punhos! Apesar de tanto tempo ter se passado os afetos ainda são expressos em tons de voz mais agudos enquanto os gritos de guerra são sempre em tons graves. Isso pode ser observado também na música. O lirismo romântico de Vivaldi passeia pelas notas mais agudas, enquanto que os graves são a escolha triunfante de compositores como Wagner (que inspirou líderes nazistas) e Schumann exacerbado, insano e que acabou se suicidando.

O mais interessante, porém vem agora. O Dr. Lamartine Hollanda Jr. um dos maiores nomes da hipnose contemporânea, afirma que a verdadeira hipnose é aquela que “causa qualquer alteração signifcativa dos estados de consciência.” Para ele existem apenas dois tipos de hipnose: a paterna e a materna. Segundo o Dr. Lamarine a hipnose de base parterna é incisiva, dura, ordenativa; ela comanda: Durma agora! Relaxe! Quero que entre em estado de profundo relaxamento.”

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O tom de voz é claro, deve ser mais grave e mais impositivo. Ele nos diz que a hipnose do “tipo” materno pode ser vista toda vez que uma criança se machuca e a mãe começa a lhe falar num tom de voz modulado, mais agudo e cadenciado e sussurra: “Vou dar um beijinho aqui no dodói e vai passar a dor, está bem?” E não é que a dor passa? Como toda hipnose leva o sujeito a um estado “regressivo”, podemos ver aqui uma fantástica convergência com as descobertas sobre os primórdios da linguagem.

A hipnose como a música usam a dicotomia grave/agudo, para reproduzir estados de consciência primitvos, com os quais convivemos muito mais tempo do que com o nosso novo cérebro adapatado à linguagem com consoantes e portanto ao artificialismo.

Assim lembre-se de engrossar a voz quando foi brigar e de adoçá-la quando quiser obter carinho e atenção para o afeto. Na verdade nem é preciso lembrá-los disso, pois essa lição primordial já vem de fábrica.