Cyberpsicologia – Interferências e intercorrências da Web 2.0 na educação

por Andréa J. Nolf – psicóloga do NPPI

A Web 2.0, na verdade, funciona como se os softwares fossem eternos testes, com objetivo de estarem em constante correção e alteração por parte dos usuários, de acordo com o seu uso e suas necessidades.

Continua após publicidade

Algumas aplicações Web 2.0 permitem a personalização do conteúdo mostrado para cada usuário, sob forma de página pessoal, permitindo a ele a filtragem de informação que lhe é pertinente e relevante.

Segundo a ‘Wikipedia’ — que já é, por si mesma um exemplo de Web 2.0, assim como também o é o ‘Youtube’ —, a Web 2.0, foi um termo cunhado em 2003 pela empresa O'Reilly Media[1] para designar uma segunda geração de comunidades e serviços, baseados na plataforma Web, que podem conter wikis, redes sociais e aplicações, baseadas em uma maneira de indexar informações, a partir do linguajar natural da comunidade que a utiliza. Embora o termo tenha a conotação de uma nova versão para a Web, ele não se refere à atualização nas suas especificações técnicas, mas a uma mudança na forma como ela é encarada por usuários e desenvolvedores.

Na Educação, a questão mais premente já não se refere ao beneficio ou malefício do uso dos conhecidos sites de relacionamento ou dos conhecimentos produzidos pela Web 2.0; Nem tão pouco sobre a conveniência (ou não) da utilização destas ferramentas mas, sim, do tipo de uso que faremos das mesmas, uma vez que essa inserção vem se colocando como inevitável, em um prazo bem menor do que o previsto. Pensar em novas formas de ver o Ensino e a Cultura como um todo, que englobe presencial e virtual, são assuntos atuais, e a tendência é que a quantidade dessas discussões aumente e se intensifique na medida em que começa a ser impossível pensar em produção de conhecimento sem uma prévia pesquisa na Internet.

Antigamente tínhamos o "papai sabe tudo" (que, sabe-se hoje, definitivamente não sabia lá grandes coisas…). Hoje temos o oráculo chamado Google. A escola e a família estão perdendo o status e a autoridade de mantenedores absolutos do conhecimento. Como benefícios dessa mudança, teremos a diversidade, produção de conhecimentos e o respeito à relatividade dos fatos. Um conhecimento produzido lateralmente, ao invés do conhecimento decorado e passado de cima para baixo, como era feito antigamente.

Continua após publicidade

Neste percurso teremos ainda alguns desafios a enfrentar, como o desenvolvimento de novas perspectivas, que busquem ter, principalmente, um profissional e uma didática que abarque toda essa diversidade que se apresenta em nossos horizontes. Assim, será necessário que esse novo educador tenha uma visão pluralista, que aceita o diferente, sem querer excluí-lo ou destruí-lo; Só assim será possível construirmos, também, metodologias de ensino que apresentem coerência entre aquilo que ensinamos e aquilo que possa ser aprendido sozinho.

Muitas escolas, porém, ainda renegam estas ferramentas e acabam tendo suas imagens prejudicadas por meio da utilização de vídeos feitos em sala de aula, e em comunidades do tipo "Eu odeio…". Cabe a elas, então, buscar construir o novo espaço para educação, sendo que a maior possibilidade das escolas hoje, é justamente educar. Para isso é preciso que se equacione o problema com naturalidade, e que se procure “enxergar” o que está sendo dito, através da ferramenta. Se determinada escola ou professora fica exposta na rede, e esse sentimento é compartilhado por um número significante de alunos, será preciso que essa escola, ou profissional amadureça, "desça do pedestal" e perceba até onde aquilo é apenas uma implicação, ou um sentimento compartilhado por muitos, conseqüência de uma postura vertical, unilateral, e superior.

Pela nossa experiência, o que conseguimos constatar é que essas ferramentas só trazem à tona queixas pré-existentes, até então "camufladas". A Internet ou o computador, só viabiliza a expressão dessas "vontades", sejam elas boas ou ruins, construtivas ou destrutivas.

Continua após publicidade

Assim, enquanto estivermos discutindo apenas o “recadinho anônimo malcriado” — que no passado era deixado na porta do banheiro, e que hoje virou recado em algum espaço virtual —, não estaremos discutindo nenhuma novidade. A novidade está na intensidade, força e potência que esse recado acaba tomando, muitas vezes saindo do controle de seu veiculador. E são, finalizando, justamente essas novas regras, usos e intensidades que precisam ser ensinados e discutidos na atualidade.