Comer doce pode causar estresse

por Nicole Witek

Para o sistema do yoga, a forma mais elaborada e maior da energia vital se manifestar é através da circulação da energia nervosa. Ou seja, do sistema nervoso.

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A ciência contemporânea conseguiu evidenciar o funcionamento do sistema nervoso autônomo.

O grande vilão de nossas vidas é o estresse causado pela pressão tanto no trabalho, como na vida pessoal. Pressão para ir e vir, conflitos emocionais, problemas financeiros… Distâncias maiores para se deslocar, aceleração dos ritmos de comunicação, ritmos de decisão e desafios cada vez mais difíceis de lidar.

Já abordei o assunto estresse muitas vezes nos meus textos, mas acho importantíssimo apontar de novo, e convencer o leitor de que existem muitas técnicas disponíveis hoje em dia, principalmente o yoga.

A sensação causada pelo estresse não depende das circunstâncias externas, por mais difíceis que elas sejam. Dependem principalmente da resposta automática aos fatores externos de nosso sistema nervoso. Como parte integrante de nosso instinto de sobrevivência, temos um sistema de “fight or flight response”.

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Ou seja, “lutar ou correr” embutido dentro de nós e onde não podemos interferir conscientemente. Essas reações automáticas são totalmente úteis, pois preservam nossas vidas e espécie. Por essa razão, embutido dentro de nós, temos um sistema de proteção que faz com que, sob ameaça de uma catástrofe ou de uma ameaça física do meio ambiente, nós possamos ter recursos “instintivos” para salvar nossa vida.

As ameaças do cotidiano são motivos para nosso sistema nervoso entrar em surto ou em pânico.

Os sintomas do estresse, na sua maioria, são devidos a uma sobrecarga do sistema nervoso simpático, cujos nervos aparecem principalmente na altura da porção torácica e da porção lombar da coluna vertebral e se ramificam em direção de todos os órgãos e sistemas internos, e que preparam o corpo para enfrentar uma situação de estresse.

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Não temos consciência da situação até sentir as reações no corpo, que são os sintomas do estresse: mais força e mais velocidade dos batimentos cardíacos. O sangue é bombeado para os músculos mais rapidamente para enfrentar a situação, quando isso acontece, fica mais difícil se concentrar e atuar de uma maneira tranquila.

– A digestão fica mais lenta porque o sangue está desviado para os órgãos da ação como os músculos. Os alimentos ficam mais tempo no estômago gerando problemas de fermentação e digestão;
– A musculatura se enrijece, se preparando para luta ou fuga, o que consome uma grande força vital e esgota o sistema nervoso. Tudo isso leva a uma sensação de cansaço, como se o “proprietário” do corpo tivesse feito grandes esforços físicos;
– A respiração fica acelerada. Em uma situação estressante, o plexo solar, que é um cruzamento de nervos, fica duro e não permite mais uma respiração abdominal – onde o diafragma estaria se movimentando para baixo (inspiração) e para cima (expiração) regularmente. A respiração passa a acontecer principalmente no alto da caixa torácica e se torna superficial. Essa impossibilidade de respirar corretamente gera ansiedade, e às vezes sensações ofegantes. E assim começa o circulo vicioso do estresse.

Comer doce estressa?

– O estresse eleva o nível de glicose na corrente sanguínea: o nível de “açúcar” aumenta para “nutrir” o esforço físico, desregulando o mecanismo de produção de insulina no pâncreas. A produção acelerada de insulina gera uma dependência para alimentos doces, que alimenta assim, de novo, o círculo vicioso do estresse.

Quando se come algo muito doce, uma grande quantia de insulina é jogada na corrente sanguínea. Com isso baixa-se o nível da glicemia – hipoglicemia (baixo nível de glicose. Por causa disso o corpo desencadeia a produção de glucagon (hormônio) e cortisol (hormônio do estresse) para elevar de novo a taxa de glicose – açúcar – para um nível correto. O cortisol sobe de repente provocando todos os efeitos negativos fisiológicos do estresse crônico: ataques de pânico, diabete, insônia, dores musculares.

Isso só acontece quando se como doce sozinho – separado de uma verdadeira refeição – ou quando se come só carboidratos rápidos. Se for uma sobremesa após refeição, está tudo bem. Comer doce estressa SIM, mas só nessas condições.

A quantia de doce?

Vai depender de cada um.

Livre-se dos sintomas do estresse

Alguns profissionais aconselham esportes ou atividades físicas para “derreter” os sintomas do estresse, mas a maioria das atividades físicas, se assumir um caráter competitivo, seja com os outros ou consigo mesmo. Devemos prestar atenção para que essas atividades físicas não reproduzam a situação de “luta ou fuga”, fazendo-nos entrar na competição, usando as reservas de energia para esgotar o corpo, mais do que reabastecer o corpo de energias renovadas.

– Ganhar a competição = fight response, resposta de luta;
– Correr (inclusive na esteira, tentando manter uma meta ou se superar) = flight response, resposta de fuga.

E de novo caímos na mesma situação estressante.

Técnicas de yoga para o estresse

– Saudação ao sol, que consiste em uma sequência ativa, onde todos os músculos e as articulações são estimulados e relaxados, sem competição;
– Ao mesmo tempo essa sequência dá um ritmo apropriado e saudável à respiração, levando o corpo na direção da “aquietação” do sistema nervoso e à reserva de energia nervosa, unindo o gesto à respiração e saindo da desorganização orgânica. Esse jeito de praticar exercício físico não alimenta mais o estresse, ao contrário, tranquiliza, relaxa o sistema nervoso simpático e começa a eliminar os sintomas citados anteriormente.

Descansar e consertar

Este é o papel do sistema parassimpático. Essa parte do sistema nervoso autônomo tem como função o descanso e o conserto dos danos causados pelas diversas atividades. Ele tem como função a volta ao equilíbrio – a homeostase.
– desacelera as batidas do coração;
– ajuda na produção de sucos gástricos;
– ajuda nos processos digestivos;
– estimula os movimentos do sistema digestivo como um todo;
– aumenta a produção de lágrimas e saliva.

Como todos os nervos, eles precisam ser estimulados para “responder” e transmitir suas mensagens. Enquanto o sistema simpático é ativado automaticamente, o sistema nervoso parassimpático deve ser ativado conscientemente para funcionar. O relaxamento e o sono não são suficientes para ativá-lo corretamente!

Mas – mais uma vez – o yoga é um conjunto de técnicas que equilibram o sistema nervoso, e principalmente, nas técnicas que aquietam as reações do sistema nervoso simpático e estimula o funcionamento do sistema nervoso parassimpático.

Alongamento

Alongamentos de longa duração (1 minuto de permanência; um de curta duração tem 10 segundos) têm efeitos reflexos sobre os músculos, passando para os nervos e finalmente aquietando o cérebro. Esses alongamentos são alternados ritmicamente com relaxamento, o que gradativamente leva o sistema simpático à calma ativando o sistema parassimpático. Ao término da sessão de yoga, o corpo já entrou na atmosfera de “descanso e conserto”.

Contrações intensas

Tem como meta ativar ainda mais as grandes massas musculares com muita inervação. Isso permite o relaxamento das tensões profundas. Em consequência, induz o estado de aceitação dos desafios do cotidiano e a enfrentá-los com mais coragem e disposição.

Resumindo: o yoga pode ser a solução. Portanto, não perca mais tempo…

Comecem já!