O yoga nos tempos modernos no Ocidente

por Nicole Witek

No texto anterior, – clique aqui – contei uma história resumida sobre como o yoga se transportou para nós aqui no Ocidente.

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Dois personagens se destacaram pela vontade que tiveram de divulgar técnicas que pudessem acrescentar e ajudar nas descobertas de nossa ciência moderna, com um olhar diferente:

– Swami Vivekananda (1863-1902), cujas conferências nos Estados Unidos introduziram o yoga no ocidente. Para ele o yoga era uma ciência do espírito, que complementava a nossa ciência materialista.

– Swami Sivananda (1882-1963) estudou medicina e chegou à conclusão que a medicina curava na superfície e, já que muitos problemas vinham do psiquismo, era importantíssimo divulgar uma visão abrangente do ser físico, mental e psíquico. Ele iniciou em 1932, o Sivanandashram, famosa “escola” de yoga em Rishiskesh, nos pés dos Himalayas, seguindo a linha religiosa do Vedanta.
Iogue Swami Sivananda (1882-1963)

Mais tarde ele estabeleceu o Divine Life Society e a Vedanta Forest Academy, cujas metas eram a disseminação do conhecimento espiritual e o treinamento de pessoas em yoga e filosofia religiosa Vedanta.

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Foi justamente em 1963 que meu mestre o iogue André Van Lysebeth (1919-2004), encontrou o Swami Sivananda. Como? Por caminhos muitos surpreendentes.

Em torno de 1930, André descobriu o yoga graças ao seu interesse pela hipnose. Desde a adolescência ele se interessava pelo poder do psiquismo humano e em como a hipnose pode servir como analgésico.

Mais tarde, já estudante de engenharia na Bélgica, ele praticava a hipnose para aliviar as dores de amigos. O estudo da hipnose levou-o à descoberta das técnicas de concentração e de meditação. André dominava as técnicas de hipnose, mas encontrou as dimensões muito mais profundas do yoga e o caminho da meditação.

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Iogue Andre Van Lysebeth: divulgador do yoga no Ocidente, neófito de Sivananda e professor de yoga de Nicole Witek Terminada a segunda guerra mundial, André mergulhou no yoga: posturas, respiração, vida vegetativa, fortalecimento físico e psíquico. Experimentou, estudou e treinou. É uma pessoa prática, lembre-se, possui mente de engenheiro – a tal ponto que lavava o carro com as duas mãos para não deixar uma mão inativa, o que ele achava estúpido. Ele devorava técnicas diversas, armazenava conhecimento de diversas fontes.

Em 1949 Andre enviou uma carta para Swami Sivananda, que respondeu de próprio punho: “ Recebi o seu pedido para enviar todos os livros que escrevi. Os 11 pacotes estão saindo de Rishikesh um por dia, o nosso correio não pode mandar todos ao mesmo tempo”.

Durante esse período, André recebeu em sua casa um “ yoga-faquir” (um fakir de verdade, que engole cacos de vidros, bebe ácido nítrico e pisa em brasas), que permaneceu com ele durante um ano, treinando e iniciando seus alunos de yoga. O objetivo era divulgar a filosofia do yoga, por isso ele precisava atrair a atenção das pessoas com esses números de faquir.

Por volta dos anos 50, André começou a transmitir o seu conhecimento. Com sua espontaneidade, seu bom humor, fez sucesso no rádio e no início da era da televisão. Em Bruxelas e na Bélgica ensinou a meditação segundo um esquema bem preciso (*), que ele praticou enquanto era prisioneiro de guerra. Já em relação à prática do yoga, ensinou segundo os princípios do Swami Sivananda de Rishikesh.

André viajou para a Índia… destino Rishikesh.

Em abril de 1963, André encontrou Swami Sivananda. Ele sabia que o Andre seria um vetor talentoso e fantástico para propagar a mensagem do yoga. Swami Sivananda incentiva André: “Andrew, you must start a magazine” – Andre, Você presisa lançar uma revista". Foi assim que André editou a primeira revista “ Yoga”, em junho de 1963. Swami Sivananda morreu em julho do mesmo ano. A revista Yoga incentivou milhares de pessoas para essa prática.

De 1963 até 2004, foram mais de trezentas revistas, contando mais de 7 mil assuntos, com um único redator: o próprio André Van Lysebeth.

Por volta dos anos 60, André abriu uma escola que iria mais tarde dar início à Federação Belga. Ele foi também um dos fundadores da Federação Européia, milhares de professores de yoga na Europa receberam seus ensinamentos.

Organizou vários encontros e em 1969, reuniu 1.500 participantes do mundo inteiro e da Índia particularmente.

Voltou várias vezes à Índia convidado por famosos Swamis como Chidananda, Satcitananda, Gitananda e recebeu também Swami Satyananda.

Apesar de ainda pouco conhecido no Brasil, seus seis livros foram traduzidos para mais de 15 idiomas. Aqui no Brasil, podemos encontrar o livro “ Tantra, o culto da feminilidade”. Seus livros são referencias até na Índia e são traduzidos em Hindi.

Hoje a prática do yoga está maciçamente divulgada graças a pioneiros como André. Essas práticas influenciaram muitos ramos da medicina alternativa ou complementar, como as ginásticas mais suaves, holísticas e as técnicas energéticas diversas, ajudaram até na divulgação das técnicas de dinâmica mental e de meditação.

André morreu em 28 de janeiro de 2004. Era alegre e brincalhão, usava bom humor e piadas como método pedagógico. As conferências dele eram sempre interessantíssimas. Quando sentia que a atenção dos participantes estava fugindo, usava o riso para despertar novamente atenção e interesse. Descobrir os livros dele é uma verdadeira iniciação, o vocabulário é sempre prático. Ou seja, de um engenheiro, para quem o mundo das ondas, o mundo eletromagnético faz parte do cotidiano. Para ele, aplicar as práticas de yoga na vida se resume a usar as leis da física. Penetrar nas profundidades do mundo psíquico tem suas regras, que pedem simplesmente suas aplicações.

André dizia que “Temos o dever sagrado de compartilhar o que recebemos. Recebemos dos grandes sábios e yogis da antiguidade esse presente maravilhoso que é o yoga e o único jeito que temos de agradecê-los, é praticar com fidelidade o yoga, tal como nos foi transmitido”

(*) Esse tipo de meditação é um esquema tradicional que ele praticou e mais tarde ensinou em todos os seus treinamentos. Era uma meditação sem conotação religiosa.