Como reconhecer um precoce talento esportivo?

por Renato Miranda

Poucos dias atrás ao assistir um jogo de futebol de crianças por volta dos doze anos de idade, um pai ao meu lado me perguntou se determinado garoto que estava jogando realmente teria talento em ser um profissional.

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Antes mesmo de responder, reformulou a primeira pergunta com outra: Como podemos reconhecer um talento no esporte?

Primeiramente, como escrevi em meu último livro “Reflexões do Esporte para o Desempenho Humano” (Editora CRV), uma coletânea de textos que fiz para o Vya Estelar, nunca o dito popular “quanto mais cedo melhor”, foi levado tão a sério. Atualmente não é raro escutar, por exemplo, profissionais do futebol (e de outros esportes) dizerem que um garoto de 15 anos já está “velho” para participar de um teste ou ingressar em uma equipe de futebol de destaque.

Primeiramente é fundamental reconhecer que é um dilema para os pais, profissionais do esporte e para os mesmos jovens discriminar concretamente o que venha a ser um talento esportivo em tenra idade.

Muito embora, na dita ciência do esporte haja área específica para estudar esse fenômeno, através de disciplinas como genética, iniciação esportiva para o rendimento, avaliação, treinamento em crianças e especificidades de outros temas de estudo como fisiologia, psicologia e biomecânica do esporte, há na revelação de talentos, muitas interrogações e angústias entre os jovens, pais e profissionais do esporte. O que é muito compreensível já que ao tratar de assuntos relacionados ao futuro, estamos diante de algo no mínimo relativamente imponderável.

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Não obstante, quem “vive” no ambiente do esporte infanto-juvenil muitas vezes quer respostas ou orientações práticas na tentativa de auxiliarem os pequenos desportistas.

Em minhas orientações procuro responder na prática de modo mais acessível possível aquilo que a ciência ao longo dos anos tenta desvendar. Portanto, reúno aqui em poucas palavras algumas diretrizes que facilitam dirimir algumas dúvidas e, ao mesmo, tempo tranquiliza as pessoas envolvidas com jovens esportivamente ativos.

Primeiramente o reconhecimento do talento nos momentos da prática esportiva (observação em treinos/competições) passa necessariamente por de três características:
 
1ª) Intensidade no comportamento: uma forte característica do atleta talentoso é que desde sempre seu comportamento em suas atuações em treinos e competições reflete uma liberação de energia (física e psíquica) que se destaca em relação aos demais participantes e ao mesmo tempo tal liberação de energia é percebida como se não houvesse muito esforço.

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Ou seja, força, resistência, velocidade, motivação, concentração e persistência entre outras habilidades (capacidades especiais), são disponibilizadas para a ação esportiva naturalmente e de modo fluídico (as ações simplesmente fluem!).

2ª) “Força Nervosa”: esta é uma expressão que escutei, quando estudei na Rússia de um professor especialista em revelação de talentos. Ela significa que o jovem atleta é praticamente inabalável em relação às diversas pressões (estresse) que envolve as demandas do esporte em treinos e jogos.

Sejam tais pressões de ordem física, emocional, social ou cognitiva. Alguns exemplos de demanda/estresse que representam essa dita “força nervosa” do atleta talentoso: suporta o cansaço, recupera rápido dos treinos árduos, faz exercícios complexos com naturalidade e aprende rápido os movimentos técnicos essenciais, não se altera emocionalmente facilmente e absorve bem o impactos das pressões externas (torcida, técnicos, provocações, expectativas e outras).

Não se vangloria do sucesso e tampouco se abate em caso de fracasso, não absorve negativamente comportamentos inadequados dos adultos (técnicos, torcedores e por vezes dos próprios pais), não se preocupa demasiadamente com o futuro e relativiza calmamente críticas e elogios.

Além disso, ele (o atleta talentoso) entende e se comporta adequadamente em relação às melhores opções de tomadas de decisões (comportamento tático), adora treinar e competir. Sua única regra parece ser melhorar seu desempenho com divertimento.

3ª) Desempenho elevado: O jovem atleta talentoso quando atua, seja em treinos ou competições, faz tudo de modo que “encanta” mesmo aquelas pessoas mais distraídas. Seu desempenho “salta aos olhos”. Sua técnica é relativamente mais “apurada” em relação à idade pertinente ao gesto realizado. Ele aprende, desenvolve e controla os movimentos do esporte mais rápido e estabiliza melhor as exigências das ações técnicas e táticas. O talento se destaca entre muitos outros da sua idade.
São inúmeros detalhes de tais características, mas para um observador atento e que não se deixa influenciar emocionalmente (por ser uma pessoa querida, por exemplo, um filho), creio que tais diretrizes auxiliam na detecção de talentos. Todavia, sabe-se que isso (a detecção) não basta para se tornar um grande atleta. Várias circunstâncias precisam ser avaliadas como: oportunidades, qualidade de treinamentos, apoio familiar e outros.

Além disso, algumas outras diretrizes com forte aspecto mental e emocional auxiliam a responder ainda melhor a pergunta do início do texto, que muitas vezes é feita por pais: “Meu filho realmente tem talento?” A resposta já tem um caminho. O próximo texto nós continuamos a construí-lo!