Compaixão e flexibilidade: histórias inspiradoras

por Regina Wielesnka

Acabo de ver no site Youtube um vídeo em que uma jovem grávida partilha do leito de hospital da mãe, uma senhora bastante doente e lúcida, e se submete a um ultrassom para checar a saúde fetal e descobrir o sexo do bebê. A avó não pode conhecer a neta ao vivo, um câncer metastático ceifou sua vida dois dias depois das imagens reveladoras do exame. Muito gentis o hospital e a médica. A filha pode partilhar uma ocasião especial com a mãe, e esta se conectou mais com a filha em seus momentos finais.

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Faz onze anos que perdi minha mãe. Cerca de quatro dias antes dela morrer, disse estar desejosa de cachorro quente, e queria ainda provar um novo sabor de Nhá Benta, anunciado na TV por um galã. Fui pedir autorização da enfermeira, queria saber se podia trazer de uma lanchonete confiável o sanduiche de seus sonhos. "Para que isso?", ouvi de resposta. "O hospital vai preparar o que ela deseja. Vou chamar a nutrição pra ver isso".

Em meia hora estava a nutricionista conversando com minha mãe pra saber detalhes do sanduiche. Mostarda? Purê? Batatinha palha? Maionese? Catchup? Quer pão ou vai no prato? Decidiram detalhes do jantar e saí em busca do doce de chocolate recheado com mousse de maracujá. Ela devorou tudo, voraz e feliz. Nem parecia gravemente enferma. Depois disso sua condição decaiu, não quis mais comer e se foi tranquila, sob efeito da sedação que se fez necessária para reduzir o sofrimento respiratório.

Dou aula de pós-graduação num hospital público que tem um piano no hall da administração. De vez em quando ouço acordes, são médicos ou alunos nos presenteando com melodias que quebram em boa hora a formal atmosfera hospitalar. Tem quem pare pra apreciar as músicas. Outros sorriem e seguem a vida com seus muitos afazeres.

Compaixão e profissionalismo caracterizam esses profissionais e as instituições onde atuam. Sabem a hora de serem cientistas e sabem quando o coração precisa prevalecer, abrindo espaço para o acolhimento e flexibilidade no seguimento de regras.

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E você, tem sensibilidade e jogo de cintura na exata medida?

Tomara que sim.