Persona pode ser uma máscara

por Aurea Caetano

Gostaria de trabalhar um pouco mais o conceito de persona trazido em nosso último texto – leia. Falamos aqui do problema da identificação excessiva com a persona que pode tornar nossa vida unilateral, na medida em que nos impede de ter uma atuação mais ampla no mundo.

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Tendemos a pensar que o uso dessa máscara ou persona é negativo e que melhor seria se pudéssemos nos mostrar ao mundo sem máscaras ou disfarces. Tendemos a acreditar que essa seria uma atitude mais verdadeira ou genuína, não percebendo que por trás dessa sinceridade pode haver também um outro modo rígido de identificação com a persona.

Ou melhor, muitas vezes em nosso relacionamento com o mundo escolhemos a máscara (ou persona) da pessoa que não usa máscaras e nos recusamos a desempenhar papéis que se assemelhem a algo que acreditamos não nos pertencer. Ora, podemos estar tão identificados com essa persona que não percebemos o quanto ela é também uma máscara e dizemos ao mundo como somos genuínos, verdadeiros, sem disfarces. Será?

Esse pode ser também uma identificação excessiva que, da mesma forma, enrijece o funcionamento e leva o sujeito a uma restrição de suas possibilidades de movimentação.

Ou não? Estaremos vivendo hoje tentativas de expressão mais verdadeira nas quais as personas que utilizamos são mais fluidas e intercambiáveis?

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Será o homem pós-moderno, esse das novas gerações, um sujeito mais livre, no sentido de poder experimentar várias máscaras ou papéis?

Um mundo no qual as barreiras e limites são mais líquidos, usando aqui a terminologia de Zigmut Bauman?

Diferenças de gênero, novas formas de vivenciar paternidade e maternidade, indumentárias comuns a ambos os sexos. Ambos? E o que dizer dos transgêneros?

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Estaremos construindo novas formas de estar no mundo na qual as antigas máscaras não têm mais utilidade? E quais máscaras usaremos a partir de agora?

O conceito de persona trazido por Jung é de importância capital para compreender como nos relacionamos com o mundo, quais os atributos ou qualidades que nos expressam e como eles nos ajudam em nossa jornada. Não podemos, no entanto, trabalhar com esses conceitos de forma estática deixando de levar em conta a extrema plasticidade dos relacionamentos atuais.

É este o desafio que nossos pacientes trazem todos os dias a nossos consultórios.