Sete pecados capitais: avareza

por Rosemeire Zago

Neste artigo irei falar sobre a avareza, para dar sequência à série de artigos sobre "Os Sete Pecados Capitais": gula, soberba, luxúria, avareza, preguiça, ira e inveja.

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Avareza vem do latim avere. Segundo o dicionário Aurélio, avareza significa excessivo e sórdido apego ao dinheiro; falta de generosidade e mesquinhez. Entende-se por sórdido quem denota o emprego de meios degradantes e baixos para alcançar um fim. Você conhece alguém assim?

Convivemos diariamente com pessoas que cometem esse pecado capital. A avareza pode gerar outras atitudes negativas: a desumanidade derivada do excesso de apego, a inquietude que impõe preocupações e cuidados excessivos, proveniente da necessidade de juntar bens para si. Está ainda relacionada com os enganos, a falsidade e a mentira, na tentativa de enganar para lucrar. Segundo o conceito cristão, o homem se preocupa em acumular bens que não conseguirá levar para o céu (paraíso). O lema de quem comete a avareza é: "Quanto mais tenho, mais quero".

Avareza no trabalho

No trabalho podemos encontrar essa característica em líderes "avaro" em relação à comunicação, levando ao slogan: "Não tenho confiança em ninguém", monopolizando as informações que lhe chegam às mãos, por não conseguirem lidar com a diversidade, com a transparência, entrando num clima defensivo. Assim, não "conseguem" comunicar-se com a equipe, que acaba por não compreender as ideias e instruções, pois na verdade, não são passadas claramente, onde o líder deseja deter a informação para si, provocando deturpações e conflitos nas tarefas do dia-a-dia. A equipe tende a perder a confiança nas decisões e atitudes do líder. Em termos de gestão de pessoas podemos apontar a tendência à centralização como gesto avarento nas organizações.

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Avareza define-se ainda como estar excessivamente apegado a alguma coisa levando a um grande medo de faltar, uma percepção de escassez; que pode ter sua origem na infância, onde quando crianças passaram muitas privações, sendo muito comum a privação alimentar. Podemos verificar isso em pessoas que sempre fazem ou compram comida mais do que o necessário, com medo, ainda que inconsciente, de faltar. Outra reação muito comum é não permitir que ninguém, principalmente as crianças, deixem comida em seus pratos, obrigando-as a comer tudo que foi colocado. Tudo isso pode gerar adultos que comem em excesso, cometendo outro pecado capital: a gula.

A avareza é o produto de uma necessidade que se encontra na intimidade da psique (mente) humana. Ela tenta disfarçar o conflito com a busca de bens, mas nunca consegue suprir a sensação de carência, sendo um dos fatores que faz com que a pessoa sinta uma insatisfação constante, buscando cada vez mais adquirir bens, acreditando que com a próxima conquista sentirá satisfação, o que nunca ocorre.

O dinheiro pode passar a ser ainda uma fonte absoluta de poder, pois em muitas famílias e na sociedade como um todo, quem ganha mais parece ter o direito de reivindicar sua autoridade e poder, o que também leva à soberba (leia mais), outro pecado capital.

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A riqueza pode ser um dos instrumentos com o qual se manipula as pessoas, controlando-as e fazendo-as agir do modo muito distante do que na verdade desejam. Em muitos casos pode até influenciar a escolha da profissão, fazendo com que a pessoa busque uma profissão tida como tradicional e de maior valorização social, em detrimento de sua vocação interna, sem se dar conta que ao longo do tempo, poderá ser mais uma fonte de insatisfação.

Há casos, ainda hoje, em que muitos casais se casam não por amor, mas para se unir a alguém que lhes proporcione um status social, um nome, uma posição, sem levar em conta os reais sentimentos da alma.

É uma falta de contato com o mundo interno, gerando uma busca incessante por tudo que é externo, pois acredita que dentro dela não há nada, como se houvesse um imenso vazio que só poderá ser preenchido por algo que venha de fora. O que gera a necessidade de ostentação, ou seja, a ilusão de querer ter êxito diante do mundo e não dentro de si mesmo. A ilusão nada mais é do que uma defesa contra uma realidade amarga. Embora, possa poupar das dores momentaneamente, ao mesmo tempo, torna prisioneiro da uma verdade que nem sempre corresponde com a realidade.

Quase sempre desenvolvemos a ilusão na infância, com pais, professores, parentes, como sendo reais ensinamentos de que o dinheiro compra tudo e todos e que, com o passar do tempo, se tornam crenças que inconscientemente seguimos. Por exemplo, uma pessoa com baixo padrão de vida, que na infância presenciava muitas brigas dos pais e, que nos finais de semana ou em período de férias, passava na casa de um amigo ou parente, cujo ambiente era acolhedor, tranquilo, de muita harmonia entre as pessoas, e com um padrão de vida um pouco melhor; quando adulto, poderá relacionar que o dinheiro é que proporcionava paz e harmonia, fazendo de tudo para encontrá-la através das posses materiais. O que é pura ilusão.

Afeto X dinheiro

Ainda há muitas pessoas que agem em função dessa crença e acreditam que o amor, o carinho, a atenção, a presença constante, podem ser facilmente substituídas por roupas caras, carros importados, uma linda casa, frequentar os melhores restaurantes, viagens constantes, como se isso fosse suprir o amor não recebido. Tudo isso só gera adultos que cometem, ainda que inconscientemente, não só esse pecado capital, como ainda a soberba, o orgulho, a vaidade e a luxúria.

A avareza gera ainda uma preocupação com rótulos, pois como se importa com a opinião dos outros de maneira exagerada, ainda que a negue, há uma necessidade de mostrar sua capacidade através de aquisição de bens materiais, como a importância por suas posses e propriedades, como se isso mostrasse sua real capacidade.

Viver em busca de bens materiais é valorizar e viver em função do externo, pois não acredita ter algo dentro de si mesmo. Isso pode criar muitas ilusões e fantasias acreditando que quanto mais obtiver, mais felicidade encontrará, como se a posse material fosse o suficiente para proporcionar felicidade.

Pessoas que dão valor excessivo aos bens materiais precisam acreditar que são superiores para compensar um profundo complexo de inferioridade e a crença na falta de sentido em que vivem.

Relato de Jung

"Vi muitas vezes que os homens ficam neuróticos quando se contentam com respostas insuficientes ou falsas às questões da vida. Procuram situação, casamento, reputação, sucesso exterior e dinheiro; mas permanecem neuróticos e infelizes, mesmo quando atingem o que buscavam. Essas pessoas sofrem, frequentemente, de uma grande limitação do espírito. Sua vida não tem conteúdo suficiente, não tem sentido. Por esse motivo a ideia de desenvolvimento, de evolução tem desde o início, segundo me parece, a maior importância".

Jung nos mostra nesse relato, a importância em se buscar o sentido da vida, que com certeza não é adquirido através da aquisição de bens. Somente quando o homem tomar consciência do seu próprio mundo interior, poderá deixar a doentia preocupação com as aparências e com a consequente frustração gerada pelo vazio causado na busca desenfreada pelo mundo externo e, nesse momento, poderá encontrar o sentido da sua própria vida.