Quarentena e estresse nas famílias

Uma mudança radical nos modos de convivência das famílias foi determinada pela quarentena imposta nesses tempos do coronavírus. Muitos pais e mães passaram a trabalhar em casa, filhos saíram das escolas, as atividades extraescolares foram suspensas, os funcionários domésticos tiveram que se manter nas próprias casa e, com isso, o convívio familiar alterou-se de modo total. É um convívio familiar de 24 horas, em um único espaço, o lar.  

Pais e mães se queixam de que nunca trabalharam tanto. Além das atividades profissionais, exercidas agora em home office, eles precisam tomar conta dos filhos, das atividades escolares deles, dos momentos de lazer, da mediação das brigas entre os irmãos, do controle sobre o tempo nos videogames e sobre o tempo nas redes sociais. Soma-se ainda o cuidar da casa, das roupas, da alimentação, das compras etc.

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Observa-se um aumento do nível de estresse no grupo familiar e nas pessoas. As crianças confinadas às casas ou aos apartamentos, tendem a ser tornarem mais agitadas, pois não têm controle sobre seus impulsos, dada a idade, sendo prevalente a expressão motora de seus comportamentos. Os pais tendem a se tornarem menos pacientes, mais irritados dadas às inúmeras demandas que, de repente, caíram sobre suas costas.

Homeshooling

O “homeshooling” necessário para compensar tanto tempo longe da escola, trouxe um aumento de estresse significativo à família. Se para muitas crianças e seus pais a lição de casa já trazia problemas, discussões e  brigas, agora a necessidade, imposta aos pais, de ajudarem seus filhos a seguir os portais da escola, a entrarem nas salas de aula virtuais, a conectarem a séries de links  fornecidos pelos professores para a realização de trabalhos, projetos e apresentações acarretou situações impossíveis de serem administradas.

Existem crianças que têm disciplina e que têm estabelecida uma relação professor-aluno adequada. São responsáveis pelo que lhes é solicitado e respondem às demandas dos professores com autonomia. Estes não dependem de seus pais e conseguem administrar sozinhos as aulas e os trabalhos online.

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Entretanto, um número significativo de crianças não têm tal autonomia, pois nunca adquiriram a responsabilidade nem pelas lições de casa.  Precisavam sempre da intervenção de seus pais. Junto a essas crianças, os pais não conseguem acompanhar as demandas do “homeshooling” como não conseguem também serem obedecidos quanto à disciplina em relação a  horários das atividades de vida diária. O caos se instala com o desespero dos pais.

Que fazer?

Pais não são pedagogos. O “homeschooling” poderá funcionar bem para as crianças mais disciplinadas e independentes. Mas, para as demais crianças poderá não funcionar, pelo menos dentro do que se espera.  Nesse momento, será muito difícil, senão impossível para os pais trabalharem em tantas frentes. As tarefas escolares deveriam ser um assunto entre os filhos e os professores/pedagogos, até para que as crianças se responsabilizem pelas próprias ações. Os professores à distância, saberão quem não atende às solicitações e conseguirão distinguir entre aqueles que não atendem porque não sabem, dos que não atendem porque não querem. Essas crianças, com certeza,  terão as ajudas já previstas ou as sanções merecidas no retorno às aulas presenciais.  

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Proximidade também traz vantagens

Assim, mãe e pai poderiam exercer os papéis designados a eles, nesses tempos de quarentena. A proximidade maior, imposta,  poderá permitir conhecer melhor os filhos, ensinar-lhes responsabilidade na divisão dos serviços da casa, proporcionar-lhes atividades de lazer junto a eles, descobrir brincadeiras e jogos novos etc.

Quanto ao excesso de tempo nos eletrônicos, fazer um banco de horas para uso no celular, na televisão e nos videogames tanto para filhos como para pais poderia ajudar muito.

Sem tantos motivos para brigas, com certeza, o nível de estresse da família diminuiria. E cuidar da mente é também imperativo para enfrentar o coronavírus.